novembro 5

Seu cão é quase humano, mas não tanto…

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    Hoje falaremos sobre uma prática que vem se tornando popular, mas que é muito prejudicial à saúde dos cães e gatos: a alimentação vegetariana ou vegana.

Dieta vegetariana para humanos x cães

Sabemos que muitas pessoas optam pela alimentação vegetariana ou vegana como forma de apoio ao bem estar animal e de respeito às outras espécies, entre inúmeros outros motivos. Apesar de considerarmos tal prática digna de aplausos quando falamos sobre a alimentação de humanos, para os nossos animais de companhia ela pode ser bem perigosa.

Enquanto os humanos são animais onívoros – significando que estamos preparados biologicamente para digerir tanto plantas quanto animais -, os cães e gatos são carnívoros. Eles não foram “desenhados” para digerir vegetais com eficiência, e precisam de proteína animal para serem saudáveis. Os gatos são carnívoros obrigatórios, dependendo da ingestão de carne para a sua própria sobrevivência; os cães são carnívoros oportunistas, o que lhes permite sobreviver com dietas vegetais, porém não conseguem ficar fortes e saudáveis, ou viver longas vidas, na ausência de proteína animal.

Cão comendo com mãos humanas
Imagem: Shark 1053

Quando um animal recebe uma dieta inapropriada para a sua espécie – como um herbívoro sendo alimentado com carne, ou um carnívoro com uma dieta vegetariana -, problemas de saúde são inevitáveis. Algumas espécies conseguem suportar melhor as dietas inapropriadas (“abuso nutricional”) do que outras: um beija-flor morrerá em questão de dias se não for alimentado corretamente, enquanto cães e gatos são relativamente resilientes. Eles podem sofrer abuso nutricional por longos períodos e sobreviverem, apesar de que, lentamente, seus corpos irão se degenerar por conta disso. Mas só porque eles “aguentam” longos períodos com dietas inapropriadas, não significa que podemos fazer disso um hábito.

Em relação aos cães, devemos deixar bem claro que carnívoros oportunistas não são onívoros. Eles continuam sendo carnívoros, ainda que consigam sobreviver com dietas vegetarianas. Esta é apenas uma adaptação da evolução que permite que a espécie sobreviva mesmo em condições pouco favoráveis, estando longe de fornecer a nutrição ideal para estes animais.

Diferenças na anatomia e digestão

Toda a anatomia dos cães – especialmente os seus dentes e mandíbulas – é de animais carnívoros: os seus dentes pontiagudos servem para rasgar a pele e os músculos de suas presas, e separar a carne dos ossos. Os onívoros – como humanos e ursos negros, por exemplo – têm dentes mais afiados na frente, porém os seus molares são planos para mastigar matéria vegetal. Também a movimentação das mandíbulas é diferente: enquanto os carnívoros apenas as movimentam para cima e para baixo, com a intenção de esmagar, os onívoros e herbívoros também conseguem movimentá-las de um lado para o outro para triturar grãos e vegetais. Os cães não têm molares chatos e suas mandíbulas não se movimentam lateralmente porque não foram feitos para basearem suas dietas no consumo de vegetais.

tigela com salada - vegetariana

O trato digestivo dos cães também não está preparado para digerir grandes quantidades de matéria vegetal: o estômago dos carnívoros é menor e mais ácido do que o dos herbívoros, e o trânsito intestinal é mais rápido. Os vegetais precisam de mais tempo para serem processados, e é por isso que normalmente, quando um cão come grãos ou sementes, estes alimentos saem nas fezes intactos. Os cães também não produzem quantidades significativas das enzimas que são necessárias para digerir carboidratos – como a amilase, necessária para a digestão do amido – e não produzem a celulase, que serve para romper as fibrosas paredes celulares das plantas. Para produzir mais amilase, o pâncreas dos cães precisa trabalhar mais, de tal forma que uma dieta 100% vegetal por um longo período pode sobrecarregar o órgão, chegando comprometer a sua capacidade de funcionamento.

Por não possuir uma microbiota (“flora”) intestinal apropriada para a digestão de matéria vegetal, os cães podem consumir plantas como fonte de fibras, antioxidantes e vitaminas, mas a sua capacidade de aproveitar a energia contida nos vegetais é bem limitada.

Nutrição em foco

Os cães precisam de 22 aminoácidos essenciais para serem saudáveis, porém apenas conseguem produzir 12 deles; os demais devem ser provenientes da dieta. Estes aminoácidos essenciais são encontrados em proteínas animais de alta qualidade, como a carne de frango, gado, peixe, ovos, cordeiro, etc. Isso serve para a formação de células, músculos, hormônios e enzimas necessárias para um bom funcionamento do organismo.

As gorduras provenientes da dieta do cão também são importantes para facilitar a absorção de certas vitaminas, e também como fonte de energia e de ácidos graxos essenciais.Os ácidos graxos de origem animal são importantes para a síntese de membranas celulares, para a reprodução, e para uma pele e pelagem saudáveis e bonitas.

Os cães e gatos também não têm a capacidade de formarem vitamina D pelo contato com a luz solar (como os humanos fazem), e por isso esta vitamina deve vir da dieta – e com um detalhe importante: é necessário que a vitamina consumida seja do tipo D3 (proveniente de fontes animais), e não D2 (de origem vegetal). Os cães até conseguem absorver pequenas quantidades de vitamina D2, mas os gatos, não.

Diferente dos humanos, os cães não possuem as enzimas necessárias para aproveitar adequadamente as fontes vegetais de ácidos graxos essenciais ômega 3: por conta disso, cães e gatos em dietas vegetarianas desenvolvem inúmeros problemas inflamatórios e degenerativos.

Deficiências nutricionais causadas por dietas vegetarianas em cães:

  • Consumo inadequado de proteínas;Falta de aminoácidos essenciais, como a taurina e l-carnitina;
  • Desequilíbrios causados pela falta de ácidos graxos essenciais ômega 3;
  • Deficiências de vitaminas e minerais – especialmente vitaminas do tipo B, cálcio, fósforo e ferro.

Então, meu cão deveria comer apenas carne?

Não. Na natureza, os cães selvagens e lobos, assim como outros carnívoros, não comem somente carne (músculos). Ao ingerir as suas presas, os animais acabam consumindo também pele, pêlos ou penas, cartilagens, vísceras e tendões. Além disso, eles complementam a sua alimentação com ovos, e (sim!) vegetais, como gramíneas e frutas. Mas tenhamos em mente que os vegetais entram como uma complementação, uma parte da dieta que ajuda a fornecer fibras e algumas vitaminas e minerais, e não como a base da alimentação. Portanto, uma dieta equilibrada para cães pode e deve conter alguns vegetais – mas ela precisa também conter proteínas de origem animal!

carnes

Acreditamos que as proteínas e gorduras utilizadas na alimentação animal devam ser obtidas a partir de fontes éticas e livres de crueldade, mas não indicamos a adoção de dietas vegetarianas para cães e gatos. É preciso respeitar também a saúde dos nossos companheiros que são, em última instância, carnívoros.

Mais sobre: Dr. Becker’s Mercola Healthy Pets – Parte 1 e Parte 2, WebMD, Cachorro Verde


Você também pode gostar:

  1. Ok, mas quanto de proteína um cão deve ingerir… Existe uma medida padrão de gramas de proteína por kilo do animal?

    1. Considerando dietas caseiras para cães saudáveis, uma recomendação razoável é que em torno de 30% da alimentação do cão seja composta por carnes, e outros 5% por vísceras. Mas tenha em mente que carnes e vísceras não são 100% proteínas… e que alguns vegetais que compõem a dieta também tem proteínas.

      Se a sua pergunta for especificamente em relação às proteínas mesmo, e não às carnes, o valor é um pouco variável, já que diferentes fontes contêm diferentes teores de proteína. Ao analisar rótulos de ração, por exemplo, você verá que os teores de proteína variam bastante, representando normalmente entre 20 e 30% da matéria seca. À exceção das dietas especiais para doenças renais, por exemplo, na maioria das vezes as rações com teores maiores de proteínas têm qualidade superior.

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