“Já estou velho, meu focinho está ficando grisalho, e a Gaia está velha, também, mas ainda brincamos. Posso novamente dormir encostado em minha mãe humana e sair com ela para passear, embora não corra mais tão rápido quanto antes.
E este quintal é um lugar encantado. Temos amigos diferentes!
Ouço alguns humanos falarem que animal não tem “alma”, mas alma não é aquele corpo de luz que não morre nunca, que vive para sempre depois da morte do corpo físico ? Nossa aura não morre quando nosso físico acaba, e nós cães enxergamos esses corpos de luz, eu os vi desde pequenino… O que eu não sabia é de onde eles vinham.
Quando mamãe Ágata morreu, e eu a vi como luz de estrela, comecei a desconfiar. Aquilo que eu via como uma espécie diferente de seres, feitos de luz, e que os humanos pareciam não ver, deveriam ser as tais “almas”!
Os humanos falam em almas e anjos sem saber direito o que são, e a maior parte das pessoas não acredita que seus bichos também possuem vida eterna. Mas somos todos criaturas de Deus, e ele ama igualmente todos os seus filhos, por isso vejo por este quintal mágico não só cães de luz, mas também anjos de forma humana, crianças, adultos, velhos, e outros bichos também feitos de luz: gatos, cavalos, passarinhos… Eles aparecem e desaparecem.
Existe um tipo de luz que parece um cordão que aproxima alguns desses seres luminosos de outros seres, tanto seres físicos quanto de luz: esse cordão é rosa clarinho, cheio de luzinhas prateadas, como lantejoulas, e une os seres que se amam. Um anjo me deu a compreensão que esse é o caminho que une para sempre os seres que se amam, e me disse que esse caminho se chama “amor”. Acho que foi por causa dele que Shiva quis morrer, para ficar com mamãe Ágata.
Esse anjo também me disse que nós, cães, somos os seres que melhor conhecem o amor, neste planeta Terra, e por isso, quando um cão morre, ele não se separa de seu humano, mas fica interligado com ele para sempre por essa luz rosa clarinho. Enquanto há amor, nada os separa. As pessoas deveriam contar isso às crianças, quando um bichinho de uma criança morre, para que ela saiba que seu animalzinho continua vivo ali, perto dela, como um anjo de luz!
Estou velho agora e minha mãe humana também está. Mas ambos sabemos que, qualquer de nós que morra antes, nunca deixará o companheiro, estará ligado a ele pelo amor. Um amigo de luz, um buldogue inglês branco chamado Haig, ensinou como podemos ver nossos amigos que morreram, falando através da poesia de seu dono:
“Agora não posso mais correr com vocês… a não ser numa espécie de sonho, mas vocês, se sonharem um pouco, poderão me ver ali…”
Minha mãe está aprendendo a sonhar essa espécie de sonho…”
E aqui Sol termina seu relato. Eu continuo.
Quando Gaia estava com 10 anos e 10 meses – e Sol com 9 anos – Gaia começou a tossir e cuspir uma espuma branca. Foi num fim de semana, e eu telefonei à minha amiga veterinária Patricia, que pediu que eu desse à Gaia o xarope para tosse que ela costumava tomar, e se a cachorra não melhorasse até 2.a feira, levasse à Clínica dela.
Gaia não melhorou, segunda logo cedo fomos à Clínica em São Paulo, junto com Patricia e sua mãe Telma, veterinária dona da Clínica. Sol, como sempre, foi junto.
A tosse era sintoma de cardiopatia, e Gaia morreu de um enfarte fulminante em poucos segundos, deitada a meus pés, ali mesmo na Clínica.
E Sol ficou mais só – meus dois boxers mais novos ficam numa parte separada do quintal, porque a feminha é agressiva e agrediu o Sol algumas vezes, machucando-o.
Continuo o relato com textos que escrevi nos dois últimos anos do Sol – é muito doído ainda fazer uma nova redação contando isso.
TEXTO E FOTOS POR TEREZA FALCÃO