janeiro 27

Pancreatite em Cães

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Depois de festas e churrascos, todo mundo gosta de levar um “agradinho” para os seus cachorros, certo? Isso quando os bichinhos não participam ativamente da reunião, ganhando petiscos de todos os convidados. Só que este hábito bem intencionado pode causar problemas sérios à saúde do cão – e quem mais sofre é o pâncreas dele!

O que é o pâncreas?

O pâncreas é uma glândula do sistema digestivo, que produz enzimas digestivas e hormônios importantes, como a insulina, o glucagon e a somatostatina. Enquanto as enzimas são essenciais para a digestão dos alimentos, os hormônios produzidos pelo pâncreas servem principalmente para regular os níveis de açúcar no sangue.

Figura destaca em amarelo o pâncreas do cão, próximo ao estômago e porção inicial do intestino.
Imagem: Ilustrações Médicas

O que é pancreatite?

Quando o pâncreas inflama, temos uma pancreatite. As enzimas digestivas produzidas pelo pâncreas normalmente só são ativadas (só começam a “funcionar”) quando chegam ao intestino; porém, se o órgão estiver inflamado, as enzimas acabam entrando em ação dentro do próprio pâncreas. Na prática, o pâncreas começa a se auto-digerir. Estas mesmas enzimas podem inclusive extravasar para a cavidade abdominal, causando danos também em outros órgãos, como o fígado, a vesícula biliar, e os intestinos.

Quando a pancreatite é aguda (súbita, repentina), é possível uma recuperação completa. Já nos casos crônicos (de longo curso), podem ficar danos permanentes, como o desenvolvimento de diabetes e/ou insuficiência pancreática exócrina (uma doença que dificulta a digestão de alimentos). Não é possível diferenciar a pancreatite aguda da crônica com base apenas nos sinais apresentados pelo animal, apenas com biopsias.

O que causa a pancreatite?

Não há uma causa bem definida para a pancreatite, mas há alguns fatores predisponentes bem conhecidos. Fatores predisponentes são aqueles que, apesar de não causarem diretamente a doença, facilitam a sua ocorrência. Entre eles, podemos citar: a ingestão excessiva de gorduras, o uso de corticosteróides, o hiperadrenocorticismo, tumores, e alguns tipos de infecções.

A genética também parece desempenhar um papel importante neste sentido, com uma maior probabilidade de ocorrência da doença em cães das raças Schnauzer, King Charles Spaniel, Boxer e Collie. Os Cocker Spaniels são particularmente propensos à pancreatite, possivelmente em virtude de problemas autoimunes (o corpo cria defesas contra si próprio). Com isso em mente, é aconselhável não reproduzir cães que já tenham sofrido com este problema.

Como saber se o meu cão tem pancreatite?

Os sinais mais comuns da pancreatite são bem inespecíficos, e podem incluir:

  • Perda de apetite;
  • Vômitos;
  • Dor abdominal (sensibilidade ao toque, coluna arqueada, depressão, recolhimento, agressividade);
  • Diarreia;
  • Letargia;
  • Desidratação.

Não raro, estes sinais aparecem pouco tempo depois de o cão ter ingerido grandes quantidades de alimentos gordurosos, como restos de churrasco ou de festas.

Imagem: Pet Wave

Para diagnosticar a pancreatite, o veterinário precisará fazer exames de sangue para avaliar as funções renal, hepática e pancreática. Ultrassonografias também podem ser úteis para avaliar danos físicos eventualmente causados ao pâncreas e órgãos ao seu redor, bem como para diferenciar de outras possíveis causas para os sintomas apresentados pelo cão.

O exame “padrão-ouro” para a pancreatite em cães – ou seja, o exame mais preciso e confiável de todos – é a histopatologia (biopsia) do pâncreas, que raramente é feita ou indicada, pois é um exame bem invasivo. Uma novidade para o diagnóstico da pancreatite são os testes do tipo “SNAP”, que são testes rápidos que podem ser feitos no próprio consultório veterinário. A sensibilidade deste método é de aproximadamente 85%, ou seja: ele consegue identificar 85 de cada 100 casos da doença, sendo de grande auxílio ao médico veterinário.

Como tratar?

Independentemente de a pancreatite ser aguda ou crônica, a abordagem será a mesma. O tratamento normalmente envolve a hospitalização do paciente, e deve incluir a hidratação por via intravenosa (“soro na veia”), o uso de medicamentos contra o enjoo mesmo que o cão não esteja vomitando, e analgésicos. Antibióticos só devem ser usados nos casos em que houver suspeita de infecção, o que é pouco comum (mas pode acontecer).

A alimentação também é um ponto-chave no tratamento da pancreatite em cães, e esta deve ser feita preferencialmente por via oral (ao invés de parenteral – na veia). A dieta deve ter níveis baixíssimos de gordura para cães, e moderados para gatos.

Casos moderados de pancreatite normalmente têm um bom prognóstico (boas chances de recuperação). Já os casos mais severos podem levar a complicações sistêmicas, inclusive a falência múltipla de órgãos e a morte. Por esta razão, é essencial que os tutores sejam cuidadosos ao alimentar os seus animais, e, especialmente, que eduquem os seus convidados quando decidirem fazer festas ou churrascos na sua casa. O ideal é que apenas o tutor se encarregue de dar os “agradinhos” aos cães, e sempre em quantidades bem moderadas.

Aos primeiros sinais de mal estar, o cão deve ser levado ao veterinário o quanto antes possível. Toda doença é mais fácil de ser tratada quando detectada no início.


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