Quando um cão tem uma doença dolorosa ou crônica e incurável, é inevitável que os tutores passem a se questionar a respeito da qualidade de vida do seu animal. Ele está sofrendo? Sente muita dor? Será que está chegando a hora de ele partir?
Falar sobre eutanásia é sempre algo assustador, quase um tabu. Ninguém quer nem lembrar que isso existe, até que, em algum momento, surge o dilema avassalador. Mesmo pessoas que sempre consideraram a ideia da eutanásia como algo abominável podem mudar de ideia quando veem os seus animaizinhos sofrendo intensamente sem que os tratamentos consigam ajudá-los. Ou, no mínimo, a ideia deixa de parecer tão absurda assim.
Do outro lado, aquelas pessoas que sempre foram favoráveis à eutanásia passam a se questionar: mas será que seria apropriada para o meu animal? Será que está na hora? Se o meu cão pudesse falar, qual seria a opção dele?
Seja como for, a decisão é difícil e dói. Mas é possível torná-la um pouco mais objetiva.
A Escala HHHHHMM
A escala “HHHHHMM” de qualidade de vida foi desenvolvida nos Estados Unidos pela médica veterinária Alice Villalobos. Esta escala tem o objetivo de ajudar os tutores a avaliarem, da forma mais objetiva possível, como está a qualidade de vida do seu animalzinho, e se estão realmente conseguindo ajudá-lo com os cuidados que vêm sendo prestados – sejam eles cuidados paliativos ou o tratamento em si.
Como se pode deduzir pelo estranho nome, “HHHHHMM” é um acrônimo, que vem do inglês: Hurt (dor), Hunger (fome), Hydration (hidratação), Hygiene (higiene), Happiness (alegria), Mobility (mobilidade) e More good days than bad days (mais dias bons do que ruins). O tutor deve dar notas a cada uma destas variáveis, e, ao final, terá uma nota que o ajudará a tomar a decisão de prosseguir ou não com os cuidados paliativos ou o tratamento. Conheça abaixo a tabela, em adaptação livre para a língua portuguesa (veja o original aqui: :
Escala de Qualidade de Vida (HHHHHMM) |
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Os tutores podem usar esta escala para determinar o sucesso dos cuidados paliativos. Dê notas ao paciente, usando uma escala de 0 a 10 (10 sendo a condição ideal). |
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Escore |
Critério |
0-10 |
Hurt (dor): o controle adequado da dor e a habilidade de respirar bem devem ser a preocupação principal, e estão acima de todos os outros critérios. A dor do cão parece estar sob controle? O cão consegue respirar normalmente? Ele precisa receber suplementação com oxigênio? |
0-10 |
Hunger (fome): o cão está comendo o suficiente? Ele precisa de ajuda para conseguir se alimentar? Ele precisa de um tubo de alimentação? |
0-10 |
Hydration (hidratação): o cão está bem hidratado? Para pacientes que não consigam beber água o suficiente, pode ser necessária a aplicação de fluidos subcutâneos. |
0-10 |
Hygiene (higiene): o cão deve ser mantido escovado e limpo, especialmente depois de fazer as necessidades. Previna escaras de decúbito usando uma caminha macia, e mantenha todas as feridas limpas. |
0-10 |
Happiness (alegria): o cão demonstra prazer e interesse? Ele responde a familiares, brinquedos, etc.? Ele parece deprimido, solitário, ansioso, entediado ou assustado? A cama do cão poderia ser movida para um local mais próximo de onde a família passa a maior parte do tempo? |
0-10 |
Mobilty (mobilidade): o cão consegue se levantar sem ajuda? Ele precisa do auxílio de um humano ou acessório (carrinho, por exemplo)? Ele tem vontade de passear? O cão apresenta convulsões, ou se desequilibra? (alguns tutores consideram a eutanásia preferível à amputação, mas um animal com mobilidade reduzida porém alerta e responsivo pode ter boa qualidade de vida, contanto que os tutores se dediquem a ajudá-lo). |
0-10 |
More good days than bad (mais dias bons do que ruins): quando os dias ruins são mais frequentes do que os dias ruins, a qualidade de vida pode estar comprometida. Quando um elo saudável entre humano e cão não é mais possível, o tutor deve estar ciente de que o fim está próximo. A decisão pela eutanásia deve ser tomada se o cão estiver sofrendo. Se a morte vier pacificamente e sem dor, está tudo bem. |
*Total |
* Um escore final acima de 35 pontos indica uma qualidade de vida aceitável para se prosseguir com os cuidados paliativos. |
É interessante que esta avaliação seja refeita periodicamente, para que se consiga perceber, de forma mais objetiva, como o cão está respondendo aos cuidados que vêm sendo prestados, e se está havendo um declínio na sua qualidade de vida.
Independentemente do resultado obtido com esta avaliação, cabe lembrar que a decisão quanto à eutanásia é “pessoal e intransferível”. Caso não se sinta confortável com o conceito da eutanásia, ou, se acreditar que, mesmo com um escore ruim, ainda não está na hora, você não é obrigado a fazê-la. A escala é somente uma ferramenta para auxiliar os tutores. Se precisar de mais informações para ajudá-lo nesta difícil decisão, veja os meus outros artigos sobre o tema: “Aquela palavra com E…” e “Eutanásia: O que o animal sente?”.
Nos quatro primeiros quesitos meu labrador é 10. Já nos três últimos o score é preocupante: 4 para a alegria e mobilidade e 5 para o último, dias bons e ruins estão equilibrados. Tratando da mobilidade, acredito que volte a ser aquele agitador contumaz de rabo. Já para os dias em que alterna dias bons e maus é seguir cuidando e amando, mesmo com o coração apertado…
Olá, Penha!
É isso aí, infelizmente, conforme os nossos cãezinhos vão ficando mais velhinhos, começam a ter certos problemas que comprometem a sua qualidade de vida. É triste vê-los assim, mas, ao mesmo tempo, é neste momento mais delicado da vida em que muitos de nós se tornam muito mais ligados aos nossos animais e às suas necessidades. Com os devidos cuidados e muito amor, é possível tornar esta fase mais tranquila para todos.
Tudo de bom para você e o seu cãozinho!
Não conhecia esse método. Muito interessante, dessa forma nos auxilia a avaliar qual o momento certo de deixar nosso filho de 4 patas partir. Tenho um cão idoso, mas ele ainda é super ativo.
Este método é pouco conhecido mesmo, mas muito útil para termos uma visão um pouco mais objetiva em relação à qualidade de vida dos nossos cães 😉
Um abraço!
Muito bom ter parâmetros para mensurar qualidade de vida. Minha maior ansiedade é que meu peludo não sinta dor. Meu objetivo é que meu melhor amigo não conheça o sofrimento, ou o sinta por um período muito breve de tempo. Aproveitando para agradecer todo apoio que Meu Cão Velhinho tem me dado, nos últimos tempos, com tanta informação relevante.
Muito obrigada, Tathiana! Fico feliz em ajudar =)
Qualquer dúvida, estou à disposição!