Uma causa possível para os hematomas espontâneos é a trombocitopenia imunomediada (TIM). Esta é uma doença em que o sistema imune do animal destrói as suas próprias plaquetas. A TIM é um problema que afeta principalmente os cães de meia idade, e, apesar de ser possível que animais de qualquer raça sejam afetados, os Poodles, Cocker Spaniels e Old English Sheepdogs são mais predispostos. A doença é rara em gatos.
O PAPEL DAS PLAQUETAS
As plaquetas são um tipo muito importante de células sanguíneas, que são produzidas pela medula óssea. Elas ajudam o sangue a coagular, viajando para áreas lesadas de vasos sanguíneos, onde elas se juntam para formar pequenos plugues ou coágulos que tampam os buracos nos vasos perfurados ou danificados. Enquanto desempenham sua importante função, as plaquetas liberam diversas substâncias bioquímicas que selam definitivamente as lesões, reparando os vasos.
Em um animal saudável, as plaquetas agem cada vez que encontram pequenos sangramentos e desgastes normais nos vasos sanguíneos. Desta forma, elas preservam a integridade do sistema circulatório.
Existem cerca de 200.000 a 500.000 plaquetas viajando através do sistema circulatório de um animal o tempo todo, mas apenas 20.000 a 50.000 são realmente necessárias para prevenir sangramentos e hematomas espontâneos. Em torno de um terço das plaquetas circulantes fica armazenado no baço, aguardando ser “chamado” para trabalhar se necessário. Quando estas plaquetas armazenadas ficam muito velhas para desempenhar seu papel eficientemente, o baço as envia para um “programa de reciclagem”.
Quando um pequeno sangramento no corpo de um cão não recebe a atenção necessária das plaquetas, ele rapidamente se transforma num grande hematoma. Hematomas espontâneos que ocorrem devido a pequenas batidas no corpo sinalizam que não há plaquetas o suficiente, ou que elas estão funcionando bem.
COMO O SISTEMA IMUNE DESTRÓI AS PLAQUETAS
De vez em quando o sistema imune de um animal pode confundir suas próprias plaquetas com invasores externos. Quando isto ocorre, é desencadeada uma série de eventos destrutivos.
Primeiro, o sistema imune envia anticorpos para cobrir as plaquetas. O baço interpreta que as plaquetas corbertas por anticorpos são candidatas à reciclagem, e começa a removê-las da circulação sanguínea num ritmo muito mais rápido do que o normal.
As células da medula óssea que produzem plaquetas reagem à situação aumentando em tamanho e quantidade, para conseguirem atender à crescente demanda por plaquetas. As plaquetas produzidas agora, chamadas de plaquetas de estresse, são maiores e mais efetivas do que as normais.
Apesar disso, enquanto isto ocorre, o sistema imune continua destruindo as plaquetas. Se o nível de anticorpos ficar muito alto, as plaquetas podem sobreviver por apenas alguns minutos ou horas após a sua produção.
É muito difícil prever como a doença irá atingir cada paciente, pois há muitas variáveis envolvidas.
CAUSAS DA TIM
Muitos veterinários acreditam que a trombocitopenia imunomediada é idiopática, significando que a causa é desconhecida. Entretanto veterinários holísticos suspeitam que, tal como ocorre com boa parte das moléstias imunomediadas, existe uma gatilho que desencadeia o problema no sistema imune.
O que a maioria dos veterinários holísticos acredita é que, enquanto a causa exata da TIM ainda não é identificada, esta moléstia pode ser desencadeada ou exacerbada por vacinas – particularmente as bacterinas, como vacinas contra a leptospirose de doença de Lyme – bem como vacinas mortas que contém adjuvantes imunoestimulantes muito fortes, como a vacina da raiva.
As vezes, é possível que uma única vacina desencadeie um problema no sistema imunológico de um cão, porém o mais comum é que isto seja resultado da associação de vacinas com medicamentos, toxinas ambientais, uma dieta de má qualidade, e outros fatores geradores de estresse; e, enquanto há vezes em que a reação vacinal é imediata, o mais comum é que o sistema imune do animal reaja a vacinações cumulativas ao longo de um período de meses ou anos. Por esta razão é importante evitar vacinas e reforços desnecessários.
*** Nota Meu Cão Velhinho: é importante lembrar que devemos evitar a “supervacinação”, porém a vacinação corretamente manejada é extremamente importante para a saúde do seu cão. Se o seu velhinho já vem tomando regularmente as suas vacinas anuais desde filhote, pergunte ao seu veterinário se ele considera necessário continuar os reforços todos os anos, ou se é possível espaçar mais os intervalos. Não tente, em hipótese alguma, criar o seu próprio calendário de vacinação sem a devida orientação veterinária.
SINTOMAS E DIAGNÓSTICO
A maioria dos sinais clínicos da TIM são relacionadas a sangramentos, sendo o aparecimento de hematomas espontâneos o mais comum deles. Outros sintomas podem incluir letargia, fraqueza, aumento da frequência respiratória, sangramento pela boca ou nariz, gengivas empalidecidas pela anemia, e fezes escuras que indicam a presença de sangue no trato digestivo. Outros sinais menos comuns incluem significativas dificuldades respiratórias e morte súbita.
O diagnóstico da TIM envolve descartar todas as possíveis causas (não relacionadas ao sistema imune) e outras condições primárias que podem levar à trombocitopenia (baixa contagem de plaquetas) como condição secundária. Em cães, isto inclui doenças virais, parasitárias, fúngicas e bacterianas, bem como alguns tipos de câncer e a administração de certas drogas.
Testes diagnósticos tipicamente incluem um hemograma completo e perfil bioquímico, teste de coagulação, titulação para doenças infecciosas, e um teste para anticorpos antinucleares (ANA) para avaliar a resposta do sistema imune contra o DNA. Urinálises, radiografias torácicas e ultrassons abdominais também podem ser solicitados.
OPÇÕES DE TRATAMENTO
A trombocitopenia imunomediada é uma condição complexa que varia de um paciente para outro, por isso o tratamento deve ser individualizado. Frequentemente é necessário empregar um tratamento agressivo quando o problema é diagnosticado. Muitos animais precisam ser hospitalizados, por já estarem em estado crítico neste momento.
O ataque do sistema imune às plaquetas deve ser contido rapidamente, o que infelizmente significa o uso de drogas imunossupressivas para salvar a vida do cão. Se houver anemia, pode ser preciso fazer uma transfusão sanguinea. Tratamento de suporte, na forma de oxigênio e fluidoterapia também podem ser feitos.
As causas subjacentes devem ser identificadas e tratadas para controlar a TIM e diminuir o risco de recidivas. No longo prazo, o cão precisará utilizar drogas imunossupressivas e outras com base nos sintomas apresentados. Não raro, o paciente precisa manter o tratamento por meses após o diagnóstico.
Quaisquer drogas ou vacinas administradas imediatamente antes do desenvolvimento da TIM devem ser evitadas pelo resto da vida daquele animal. Também é recomendável que, uma vez diagnosticada a TIM, seja feita a titulação dos anticorpos de todas as vacinas pelo resto da sua vida, a fim de evitar futuras vacinações desnecessárias.
*** Nota Meu Cão Velhinho: a titulação de anticorpos vacinais é um exame de sangue que permite saber se o cão continua protegido pelas vacinas que tomou; e, portanto, se um reforço é necessário ou não. Para algumas doenças, como a cinomose, parvovirose e hepatite infecciosa canina, é sabido que a proteção pode durar mais que um ano, e a titulação de anticorpos pode ser bastante útil. Já para outras doenças, como a leptospirose e leishmaniose, a proteção comprovadamente não dura mais que um ano, sendo necessários os reforços anuais (em alguns casos, até semestrais para a leptospirose) para animais que vivem em regiões de risco. Pergunte ao seu médico veterinário se a região onde você vive é considerada como sendo de risco ou não para estas doenças, e se é realmente necessária a vacinação contra elas. Por fim, em relação à raiva, estudos demonstram que a proteção vacinal pode durar mais que um ano, porém a legislação brasileira exige os reforços anuais. Não se engane: a raiva não foi erradicada, e há casos recentes no Brasil de pessoas que foram infectadas por animais de estimação.
Clique aqui para saber mais sobre a titulação de anticorpos vacinais e a supervacinação (link externo).
PROGNÓSTICO
A maioria dos cães com TIM pode viver normalmente se responder bem ao tratamento inicial. De forma geral, se um cão sobrevive à fase aguda e o tratamento imediato, ele tem chances excelentes de ficar bem a longo prazo.
Muitos cães podem ser “desmamados” de todas as medicações à medida em que a sua saúde melhora, mas ocasionalmente um cão ou outro pode precisar de tratamentos medicamentosos intermitentes pelo resto da vida.
Tradução livre de Mercola Healthy Pets. Acesso em 27/04/2015.