O banho, para a maioria dos cães idosos, é uma rotina com a qual já estão habituados. Em geral, aquela fase em que o cão tinha medo do chuveiro, do som do secador, ou que tentava abocanhar o assoprador, já passou.
Mas, mesmo assim, o banho pode ser um fator de estresse para o cão idoso, e este estresse pode inclusive colocar a sua vida em risco. Por quê? Simplesmente porque a capacidade que o corpo do animal idoso tem de reagir ao estresse fica reduzida, e um mínimo estímulo pode bastar para que o seu sistema cardiorrespiratório fique comprometido. Cães com colapso de traqueia, por exemplo, podem apresentar dificuldade respiratória – dificuldade esta que fica ainda pior nos animais que têm insuficiência cardíaca congestiva e correm o risco de entrarem em edema pulmonar.
Dentro e fora da pet shop
Ora, se já dissemos que a maioria dos idosos já está habituada com o ritual do banho, então por que isso seria estressante? Porque o banho em si pode não ser o problema – há cães que inclusive gostam, e até relaxam com um bom banho. Mas o problema é o que pode vir junto com o banho, especialmente no caso dos cães que tomam banho em pet shops, como, por exemplo:
- O transporte até local do banho pode ser estressante, se o cão não se sentir confortável em caixas de transporte ou no carro;
- Uma eventual troca de pet shop pode fazer com que o animal estranhe o novo ambiente, os cheiros, e as pessoas que lá trabalham ou que frequentam o local;
- O cão pode ter dificuldade para se adaptar a uma eventual troca do profissional que normalmente dá banho nele;
- A presença de outros cães, muitas vezes estressados e latindo, de cadelas no cio, ou de gatos também tornam o cão ansioso, independente da sua idade;
- Ficar em gaiolas é sempre um incômodo;
- O cão idoso pode sofrer de problemas articulares, e uma manipulação incorreta pode gerar dor e desconforto;
- O procedimento de desembolar pelos de cães de pelagens longas pode doer se não for feito com o devido cuidado;
- Há estabelecimentos que não oferecem água aos animais que estão aguardando o banho ou a hora de ir embora, o que pode causar grande desconforto – e até mesmo risco à saúde – de animais que sofram, por exemplo, de insuficiência renal, diabetes, hiperadrenocorticismo, entre outras condições que aumentam a demanda por água;
- Muitos cães não gostam do cheiro dos perfumes.
Mas não é só na pet shop que o banho pode ser estressante para o cão idoso. O banho dado em casa também pode ser incômodo. Veja algumas situações em que, mesmo em casa, o estresse é potencializado:
- Se o tutor está com pressa, ou simplesmente não gosta de dar banho no seu cão, fazendo isso mais como uma obrigação, o peludo sentirá o “mau-humor” do humano, e ficará incomodado também;
- A água pode estar muito quente ou muito fria;
- O secador muito quente, ou muito próximo da pele, pode causar queimaduras;
- O uso de produtos inadequados para a pele de cães pode causar alergias e irritações de pele;
- O mau uso de produtos (como o uso em excesso, ou não enxaguar o suficiente) também pode causar alergias e irritações na pele;
- Shampoo no olho e água no nariz, ninguém merece!
- Água nos ouvidos, além de por si só ser desagradável, quase sempre resulta em otite;
- O mau uso de rasqueadeiras pode ferir e irritar a pele do cão;
- Tem cães que não gostam que certas partes do seu corpo sejam lavadas ou manipuladas (mais comumente, o focinho e as patas), e a indelicadeza na hora de lavar estas partes pode deixar o cão bastante irritado. E, se a pessoa responsável pelo banho brigar com o cão por causa disso, ele ficará ainda mais estressado;
- … e, sim, há cães que simplesmente não gostam de tomar banho.
A lista acima é apenas exemplificativa. Quer dizer, portanto, que há ainda diversos outros fatores potencialmente estressantes para cães idosos. Mas, a maioria, dá para evitar.
Minimizando o estresse
Para o cão idoso, geralmente o melhor banho é aquele dado pelo seu próprio tutor, em casa. De imediato, já vemos diversas vantagens, tais como:
- O ambiente é aquele em que o cão se sente mais confortável;
- Não há exposição a animais, barulhos, e pessoas estranhas;
- Não há espera em gaiolas;
- A água estará prontamente disponível para beber após o banho;
- A pessoa responsável pelo banho é justamente aquela pela qual o cão sente maior afeto, e tem mais ligação;
- O banho, dado com calma e carinho, pode ser uma ótima oportunidade para fortalecer o elo entre cão e humano;
- O tutor já conhece bem quais são as partes do corpo do cão nas quais ele sente dor ou desconforto, e assim terá mais cuidado ao manipulá-las;
A desvantagem do banho em casa pode ser a inexperiência do tutor em dar banho em cães, o que aumenta a chance de mau uso de produtos e de equipamentos, ou de entrar shampoo ou água onde não deve. Por esta razão, se optar por dar banho no seu velhinho, tome os seguintes cuidados:
- Nada de dar banho com pressa. Disponibilize na sua agenda um tempo “com folga” para dar banho no seu cão, para que você possa curtir o momento com ele, e não deixar nenhum detalhe de fora – inclusive a secagem dos pelos, que deve ser muito bem feita. Se estiver com pouco tempo, deixe para depois;
- Antes de começar o banho, proteja os ouvidos do cão com algodão parafinado. Não use algodão comum, pois, além de não bloquear a água, ele ainda a absorve, e acaba facilitando a entrada de água nos ouvidos;
- A água deve estar morna, e, especialmente no inverno, o banho deve ser dado num local fechado (como o banheiro), para evitar que o bicho sinta frio;
- Use preferencialmente shampoos e/ou sabonetes próprios para cães ou neutros, ou, ainda, conforme a recomendação do seu médico veterinário;
- Se o seu cão tiver pelos longos, um pouquinho de condicionador próprio para cães pode ajudar a desfazer os nós. Para prevenir a formação de nós, procure escovar o animal periodicamente no intervalo entre banhos;
- Crie um “roteiro” do banho, começando pelas partes mais fáceis – ou seja, os locais em que o seu cão não se incomoda, ou até gosta que você mexa – e deixando as partes mais sensíveis por último. Isso evita que o banho já comece estressante;
- Na hora de lavar os locais em que o cão sente dor, ou que ele não gosta que mexa, seja delicado e paciente;
- Para lavar a cabeça, use sempre uma mão para proteger os olhos, o nariz e os ouvidos – conforme o local em que estiver despejando a água – para evitar que escorra água ou shampoo nestas partes. Uma ideia que ajuda a diminuir a chance de erro é, ao invés de mirar o jato de água diretamente sobre a cabeça ou a cara do cão, despejar a água sobre uma mão ou recipiente pequeno, e então ir molhando/enxaguando aos poucos;
- Se o cão fica com “remelas” nos olhos (como os poodles, em que elas secam e ficam grudadas), use um algodão com água morna (ou mesmo a sua mão molhada) para amolecê-las antes de tentar tirar;
- Se o seu cão simplesmente não gosta de banho, tente associar o procedimento a algo positivo, como carinho e até mesmo petiscos (neste caso, pode-se levar um tupperware com pedaços bem pequenos de alguma “guloseima”, que podem ser dados ao longo do banho como recompensa por bom comportamento);
- Ao final do banho, seque bem, com toalha E secador. Mesmo se tiver sol? Sim, mesmo se tiver sol! Sob os pelos, a pele do cão demora muito para secar “ao natural”, e pode infeccionar se ficar úmida por muito tempo;
- Se o cão tiver pelagem longa, escove com cuidado, especialmente na hora de tirar nós. Para ficar com as duas mãos livres, pode-se comprar um suporte do tipo “tripé” para o secador, e utilizá-lo para direcionar o vento à parte do corpo que se está secando. Se usar rasqueadeiras e desemboladores, lembre-se de que estes instrumentos foram feitos para serem usados nos pelos, e não napele do animal. Se mal utilizados, estes equipamentos podem até mesmo ferir seu cão!
- Por fim, “desapegue”: o nó está muito difícil de tirar? Corte fora. O pelo cresce de volta. Para evitar que se formem novos nós, mantenha seu cão sempre escovado.
Na Pet Shop
Só porque recomendamos, a princípio, que o banho seja dado em casa, não quer dizer também que o banho em pet shop esteja “vetado”. Ele pode ser inclusive recomendável, nos casos em que o tutor não tem tempo ou disposição para dar banho no seu cão, e necessário (ao menos, periodicamente) para os cães que precisam ser tosados. Nestes casos, quais são os cuidados?
- Ao escolher o local para dar banho no seu cão, dê preferência àqueles que possuem um médico veterinário à disposição (mesmo que não seja o seu médico veterinário). Assim, caso ocorra algum problema, o animal será rapidamente atendido;
- De preferência, leve pessoalmente o cão ao estabelecimento. Isso já reduz o estresse durante o transporte;
- Ao entregar o animal ao tosador, não demonstre apreensão e nem faça despedidas “emocionadas”. Isso apenas sinaliza ao cão que você está com medo, e que algo ruim irá acontecer;
- Agende o horário junto ao estabelecimento, para que o seu cão não precise ficar esperando na fila;
- Avise ao profissional que irá dar banho no seu cão sobre possíveis sensibilidades do animal, inclusive sobre posições que devem ser preferidas ou evitadas;
- Se possível, aguarde no próprio local ou por perto, para que ele possa ir direto para casa após o término do banho. Mas atenção: na maioria dos casos, o ideal é que o cão não veja o seu tutor durante o banho, pois isso o torna mais ansioso e dificulta a manipulação pelo tosador;
- Se não for possível levá-lo embora imediatamente após o banho, solicite ao responsável pelo Banho e Tosa que disponibilize água para o seu cão. É melhor um bigode molhado do que um cão desidratado;
- Conheça o profissional que irá cuidar do seu cão, e evite ficar trocando. Se o seu cão demonstrar que gosta do seu tosador, é um ótimo sinal!
- A maioria dos cães não gosta de perfume. Peça para evitarem de passar perfume no seu animal, especialmente se ele fica espirrando logo após a aplicação (sinal de que ele não gostou);
Com estes cuidados, seja em casa ou seja na pet shop, o seu velhinho vai poder curtir os banhos com muito mais tranquilidade e menos estresse!