dezembro 16

Cuidados Com Cães Que Não Andam

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Se já não é fácil ser um cachorro idoso, mais difícil ainda é ser um cão idoso que perdeu a sua capacidade de locomoção. Os motivos que podem levar um cão a não conseguir mais caminhar podem ser puramente ortopédicos, ou então, neurológicos.

Os problemas ortopédicos, relacionados a ossos e músculos, podem incapacitar pela dor infligida ao animal. O exemplo mais comum desse tipo de situação é a artrose, uma doença crônica e debilitante que causa dores articulares. Tumores ósseos, displasias, e outras afecções do aparelho locomotor, também podem causar dor e dificuldades de movimentação.

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A falta de mobilidade afeta diretamente a qualidade de vida dos cães.
Imagem: Flickr

Já os problemas neurológicos podem causar dor, ou não. Alguns cães podem se tornar paraplégicos, ou mesmo tetraplégicos, em virtude de acidentes, hérnias de disco ou tumores. A paraplegia ou tetraplegia em si não são condições dolorosas, mas as hérnias de disco, espinha bífida e outras lesões em coluna, podem sim doer. Algumas doenças neurológicas, mesmo sem causar dor ou propriamente paralisias, podem enfraquecer o animal e afetar diretamente a sua coordenação motora.

Com dor ou sem dor, o fato é que muitos cães idosos eventualmente sofrem com doenças extremamente debilitantes, deixando os seus tutores exaustos e perdidos. Como lidar com ele? É possível dar qualidade de vida a este cão? Quanto ele está sofrendo? Estaria na hora de deixá-lo partir? Veja a seguir algumas dicas para ajudá-lo a cuidar bem do seu velhinho:

Movimentando o Cão

O cachorro pode não conseguir mais caminhar, mas isso não significa que ele queira ficar parado. Cães paraplégicos ou tetraplégicos que não sintam dor podem se adaptar a usar cadeirinhas de rodas próprias para cachorros. As cadeirinhas normalmente são feitas sob medida, e devem se encaixar confortavelmente ao animal. As cadeirinhas para paraplégicos possuem apenas duas rodinhas, e são acopladas ao tronco do cão. Já as cadeirinhas para tetraplégicos são, na verdade, carrinhos, que suspendem o animal e permitem que ele seja puxado para poder “passear” e ver o mundo.

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Cães paraplégicos podem levar vidas ativas e alegres com o auxílio de cadeiras de rodas.

A cadeirinha não deve ser mantida no cão o dia todo, sendo necessário que ele passe por períodos de descanso sem ela. Ainda assim, ela é uma ótima forma de se melhorar a qualidade de vida de cães paralisados, pois permite que explorem diferentes ambientes sem precisarem se arrastar ou serem carregados.

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O carrinho para cães tetraplégicos é útil para levá-los para fazer as necessidades e para passear.
Imagem: Veja São Paulo

Caso o cão realmente sinta dor, então ele pode ser colocado em carrinhos (podem ser carrinhos próprios para cachorros, ou mesmo carrinhos de mão) para “serem passeados”. O estímulo psicológico certamente vale o esforço.

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Carrinhos de mão são boas opções para levar para passear cães com artrose e outras condições dolorosas. Este labrador ganhou até uma decoração especial para comemorar o dia 4 de julho nos EUA!
Imagem:Indulged Furries

Adaptações na Casa

Se o seu cão for paraplégico e usar a cadeirinha de rodas, ele pode conseguir navegar pela casa com certa autonomia. Mas, para isso, pode ser preciso instalar rampas em eventuais desníveis e degraus. Não deixe também de colocar portõezinhos de segurança nas entradas e saídas de escadarias, para evitar que o peludo decida se aventurar, ou se distraia, e acabe sofrendo um acidente grave.

Para cães com mobilidade reduzida, mas que ainda conseguem caminhar com dificuldade, é recomendável também usar pisos ou ceras antiderrapantes, para dar mais firmeza aos passos. Potes de água distribuídos pela casa facilitam a hidratação, caso o cão sinta muita dor ou dificuldade para conseguir chegar ao seu cantinho quando sente sede. Veja essas e outras sugestões de adaptações possíveis que você pode fazer na sua casa se tiver um cão velhinho neste artigo.

Combatendo a Dor

A dor pode estar presente em muitos casos. Se o seu cão foi diagnosticado com alguma condição dolorosa, não deixe de tratá-la, e não medique apenas quando ele parecer “pior”. É mais fácil impedir que uma dor comece, do que diminui-la depois que já está intensa, por isso, o tratamento da dor deve ser contínuo.

Além de medicamentos para a dor, outros tipos de terapia podem ser associadas e trazer muitos benefícios. A acupuntura, fisioterapia, e hidroterapia, ajudam a aliviar as dores e a estimular a regeneração de articulações degeneradas. Cães com artrose em particular se beneficiam muito da fisioterapia e hidroterapia: a simples movimentação das articulações estimula a sua regeneração e alivia a dor.

Lidando Com As Incontinências

Problemas neurológicos podem fazer com que o cão perca o controle sobre as suas necessidades fisiológicas. Conforme o tipo de lesão, a incontinência será urinária ou fecal. Mesmo que o cão não seja incontinente, a dificuldade de locomoção pode impedir que ele se dirija a um local apropriado quando precisa urinar ou defecar. Na verdade, pode ser que ele não consiga nem ao mesmo se levantar, fazendo as necessidades onde estiver, e se sujando com as próprias fezes e urina..

Esta questão nos leva a dois problemas importantes: (1) a higiene do cão e do seu ambiente, e (2) a alta probabilidade de infecções urinárias.

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Existem opções de fraldas descartáveis e laváveis para cães.
Imagem: Senior Pet Products

 

Um cão nessas condições precisará usar fraldas, a não ser que ele ainda tenha pleno controle sobre as suas funções fisiológicas, e que haja alguém disponível para levá-lo para fazer as necessidades tantas vezes quantas forem necessárias. As fraldas podem ser adquiridas em diversos tamanhos e modelos específicos para cães, sendo diferentes para machos e fêmeas. A depender do tamanho do cão, também é possível improvisar com fraldas de uso humano, bastando fazer um buraco para a cauda.

Uma alternativa às fraldas podem ser os coletores de urina e de fezes, que são práticos e evitam o contato direto das fezes com a pele e os pelos, poupando muito trabalho aos seus tutores.

Já se o cão conseguir controlar as suas necessidades e houver alguém disponível para fazer isso, ele pode ser levado para “se aliviar” pelo menos a cada 3 horas. Não é recomendável levar apenas duas ou três vezes ao dia, principalmente se ele tiver alguma doença que aumente a produção de urina. Ao ficar muito tempo segurando o xixi, o animal pode sofrer com infecções urinárias, que podem inclusive atingir os rins se passarem muito tempo despercebidas e sem tratamento.

Caso o animal tenha dificuldade para urinar sozinho por problemas neurológicos, pode ser necessário massagear a sua bexiga periodicamente para estimular a micção. O seu médico veterinário deve indicar a técnica adequada. Faça esta estimulação a cada 3-4 horas durante o dia, para que o cão não sofra com infecções urinárias, ou até mesmo uma ruptura de bexiga.

Cuidados Com a Higiene

Pode ser difícil dar banho em um cão que nem ao mesmo se levanta. Se o animal for dócil, não sentir dor, e permitir a manipulação, isso até pode ser feito, mas a frequência geralmente terá que ser baixa, para não estressá-lo desnecessariamente. Neste caso, é fundamental que os pelos do cão sejam muito bem secos após o banho para evitar infecções fúngicas e bacterianas na pele.

Para os cuidados mais rotineiros, existem produtos próprios para “banho seco” em cães, que ajudarão a manter a sua pele limpa. Resíduos de urina e de fezes devem ser removidos completamente o quanto antes possível. Use lenços umedecidos para a higiene da barriga, do bumbum, e da parte de dentro das patas, e, se necessário, lave com água morna e sabão neutro somente os locais que se sujaram. Lembre-se de secar bem a pele após qualquer lavagem, e aplique pomadas para assaduras de bebês se houver irritação nos locais que entraram em contato com as fezes ou a urina. Uma opção interessante para a higienização destes cães são lenços umedecidos com antissépticos, que podem ser encomendados em farmácias de manipulação veterinária.

Caso a pele comece a ficar muito irritada, avermelhada, com pústulas, e/ou coçando, pode ser que haja uma infecção. Leve ao veterinário para examinar e medicar.

As Escaras de Decúbito

Escaras de decúbito são feridas que aparecem na pele de pessoas e animais que ficam muito tempo deitados na mesma posição. Previna as escaras movimentando o cão periodicamente, algumas vezes por dia. Massagens por todo o corpo estimulam a circulação sanguínea, e também ajudam a prevenir as escaras.

As escaras de decúbito podem infeccionar e se complicar.
Imagem:Lessons From A Paralyzed Dog

Se elas aparecerem, aplique cremes com ação antisséptica e cicatrizante, mas leve ao veterinário se estiverem difíceis de tratar, ou se as lesões parecerem muito vermelhas, sensíveis, ou com secreção. Elas podem infeccionar, e precisar ser tratadas com antibióticos ou outros medicamentos mais específicos.
Mais grave até do que as escaras de decúbito é a possibilidade de edema pulmonar por estase sanguínea. Se um paciente (humano ou canino) passa muito tempo deitado na mesma posição, então o seu sangue tende a se acumular em alguns lugares, inclusive na região do pulmão. A médio prazo, isso pode levar a um edema pulmonar, culminando com a morte do cão. Movimentar o animal periodicamente e fazer massagens para estimular a circulação do sangue são medidas simples e que são capazes de prevenir este tipo de complicação.

Alimentação e Hidratação

Um cachorro que não consegue andar sem dúvidas terá dificuldade para chegar à sua água e comida. Ofereça os alimentos em horários predeterminados, sempre colocando o pote num local próximo à cabeça do cão, de modo que ele possa alcançá-lo sem esforço. Após aproximadamente 10 minutos, retire o pote mesmo que haja sobras.

A água deve ficar o tempo todo perto do cão, mas procure um local onde ela não corra o risco de ser acidentalmente derrubada por ele, caso se movimente. Esporadicamente, ofereça a água, colocando-a bem perto da boca, já que ele pode ter dificuldades para beber sozinho.

Apesar de que uma das poucas alegrias da vida de um cachorro que não anda pode ser a comida, seja cuidadoso. Até por não se movimentar, este animal não precisa de tantas calorias por dia quanto precisava antes, a não ser que ele tenha alguma doença metabólica que justifique. Isso significa que as porções de alimentos, e, principalmente, o fornecimento de petiscos, devem ser muito bem controlados para prevenir o ganho de peso, exceto se ele já estiver muito magro. A obesidade pode impactar severamente a qualidade de vida de um cão que não consegue se movimentar, ao aumentar a probabilidade de escaras de decúbito, de edema pulmonar, de infecções de pele, e as dores articulares. Cuide para manter o seu cachorro dentro de um peso adequado.

Estaria Na Hora de Me Despedir do Meu Cão?

A decisão de fazer a eutanásia num cão amado é sempre muito difícil, e extremamente pessoal. Depende das suas convicções pessoais, da sua disponibilidade de recursos para os cuidados de que ele precisa, e do grau de sofrimento do animal.

Já discutimos o tema mais extensamente em outros dois artigos: “Aquela Palavra com E…” e “Eutanásia: O Que O Animal Sente?”, e recomendamos a leitura de ambos àqueles tutores que estiverem sem saber o que fazer. A eutanásia é um recurso extremo, mas que pode ser uma saída razoável para casos de sofrimento intenso e para os quais não haja melhor solução.

Especificamente no caso de cães sem mobilidade, ou com mobilidade reduzida, devemos focar principalmente em dois aspectos: a dor que o animal sente, e se os cuidados de que ele necessita podem ser providos adequadamente. Se um cão sente muita dor, o seu sofrimento é óbvio. Existem medicamentos e tratamentos para o controle da dor, como já mencionei anteriormente neste artigo, embora, em alguns casos, o cão sinta dor mesmo assim. Saiba reconhecer a dor, e trate-a conforme a necessidade do seu cachorro. Cada tutor, baseado em suas observações do animal, e de suas convicções pessoais, deve avaliar até que ponto esta dor pode ser considerada aceitável.

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Imagem: Love to Know

Em relação aos cuidados dispensados, é preciso estar ciente de que um cão nestas condições pode precisar de bastante investimento de tempo e dinheiro. Dinheiro para os medicamentos, consultas veterinárias, e, eventualmente, outros tipos de tratamento, como acupuntura e fisioterapia Mas, principalmente, é preciso dispor de tempo. Avaliemos qual é a qualidade de vida possível para um cão tetraplégico que passe 100% do seu tempo no mesmo exato lugar, sem que ninguém se disponibilize ao menos para levá-lo para dar uma voltinha, respirar um ar puro e sentir cheiros diferentes. Ou de um cão que seja mantido em más condições de higiene, não porque seus tutores não gostem dele, mas porque não há ninguém que possa mantê-lo limpo durante o dia, trocando as suas fraldas e removendo vestígios de fezes e de urina. Ou, ainda, de um cão que esteja sofrendo com escaras de decúbito pela falta de movimentação, e, mais uma vez, falte a disponibilidade de alguém para movimentá-lo e tratar das suas feridas.

O tutor deve ser realista quanto às suas reais condições de tratar adequadamente do seu cão de todas as formas possíveis. Manter um cão com dor, imóvel, sujo, e sem atenção, é uma forma cruel de tratá-lo. Se o tutor não tiver tempo para cuidar do animal durante o dia, deve-se cogitar a possibilidade de contratar um enfermeiro veterinário, ou uma pet sitter para visitá-lo diariamente e prestar a assistência necessária. Outras possibilidades podem ser entregar o cão a outra pessoa que se disponibilize a cuidar corretamente dele, ou, em casos mais extremos, abreviar o seu sofrimento.

Não nos propomos a convencer qualquer tutor a fazer eutanásia em seu cão, pois esta decisão é muito pessoal e está relacionada às convicções de cada um. Entretanto, caso se opte por manter o cão vivo até ele partir naturalmente, o tutor tem a obrigação moral de lhe prestar os cuidados paliativos da melhor forma possível. O cão deve receber carinho, atenção, assistência veterinária, ser mantido devidamente limpo e alimentado, e com a menor dor possível. Certifique-se de que o seu cão está recebendo todos os cuidados de que precisa e merece.


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  1. Olá! Esta semana resgatei um cão idoso, ele tem 14 anos porte grande, ele só defecou no primeiro e no segundo dia, agora está 2 dias sem defecar… No dia que o resgatei, o veterinário disse que ele está bem e só precisa de energia, estou dando papinhas Royal Canin e Hills, ele bebe bastante água, mesmo assim ele não defeca, só urina. Comecei a dar purê de abóbora hoje pois vi em vários sites que incentiva a defecar, mas gostaria da opinião de vocês também.
    Obs: ele está tomando antibiótico Doxitec 200mg e antinflamatório Alcort 20mg

    1. Olá, Giovana! Parabéns pela adoção <3
      Peço desculpas pela demora. Como ele está, o intestino já funcionou?
      A abóbora pode ajudar sim a soltar o intestino, e a ingestão de água também ajuda. Não tem problema ele passar uns 2 dias sem defecar, até porque se ele foi resgatado, imagino que talvez estivesse passando fome – então, agora o corpinho dele está se esforçando para aproveitar o máximo possível do alimento que você está dando para ele.
      O que você deve ficar atenta é para o caso de ele parecer sentir dor ou desconforto abdominal – por exemplo, fica muito recolhido, triste, talvez até agressivo, e/ou demonstra dor se você palpar a barriguinha dele. Nesse caso, é importante voltar ao veterinário para examinar.
      Não dê laxantes por conta própria, pois, se ele tiver algum bloqueio intestinal, a medicação pode tornar o problema bem mais grave.
      Um abraço!

  2. Resgatamos uma cadela em condições de abandono, não caminha, tem bicheiras, defeca e urina no lugar que deita, nossa tá difícil como são estes coletores de cachorro.

  3. Muito obrigado pelo texto e todas explicações.
    Acabei de resgatar um cãozinho que foi atropelado na Mariginal Tiête aqui em São Paulo e ele ficará paraplégico… pelo menos é o que os exames dizem. A coluna não foi quebrada.. mas ela se deslocou lateralmente. É uma fêmea e ela já tem uma certa idade. Vou providenciar uma cadeirinha de rodas para ela.

    Muito obrigado pelas explicações

    1. Boa noite.Tenho um Pitty Bull de 14 anos.Tudo começou segunda passada ,dei remédio pra dor mas cada dia tá pior ,ele só mexe a cabeça e faz as necessidade aonde tá.O que eu faço?

      1. Olá, Silvia!
        Leve o seu cão ao veterinário com urgência. O seu cão pode ter sofrido uma lesão na coluna, e com certeza está sentindo dor. Ele precisa ser atendido por um profissional.

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