Se já não é fácil ser um cachorro idoso, mais difícil ainda é ser um cão idoso que perdeu a sua capacidade de locomoção. Os motivos que podem levar um cão a não conseguir mais caminhar podem ser puramente ortopédicos, ou então, neurológicos.
Os problemas ortopédicos, relacionados a ossos e músculos, podem incapacitar pela dor infligida ao animal. O exemplo mais comum desse tipo de situação é a artrose, uma doença crônica e debilitante que causa dores articulares. Tumores ósseos, displasias, e outras afecções do aparelho locomotor, também podem causar dor e dificuldades de movimentação.
Já os problemas neurológicos podem causar dor, ou não. Alguns cães podem se tornar paraplégicos, ou mesmo tetraplégicos, em virtude de acidentes, hérnias de disco ou tumores. A paraplegia ou tetraplegia em si não são condições dolorosas, mas as hérnias de disco, espinha bífida e outras lesões em coluna, podem sim doer. Algumas doenças neurológicas, mesmo sem causar dor ou propriamente paralisias, podem enfraquecer o animal e afetar diretamente a sua coordenação motora.
Com dor ou sem dor, o fato é que muitos cães idosos eventualmente sofrem com doenças extremamente debilitantes, deixando os seus tutores exaustos e perdidos. Como lidar com ele? É possível dar qualidade de vida a este cão? Quanto ele está sofrendo? Estaria na hora de deixá-lo partir? Veja a seguir algumas dicas para ajudá-lo a cuidar bem do seu velhinho:
Movimentando o Cão
O cachorro pode não conseguir mais caminhar, mas isso não significa que ele queira ficar parado. Cães paraplégicos ou tetraplégicos que não sintam dor podem se adaptar a usar cadeirinhas de rodas próprias para cachorros. As cadeirinhas normalmente são feitas sob medida, e devem se encaixar confortavelmente ao animal. As cadeirinhas para paraplégicos possuem apenas duas rodinhas, e são acopladas ao tronco do cão. Já as cadeirinhas para tetraplégicos são, na verdade, carrinhos, que suspendem o animal e permitem que ele seja puxado para poder “passear” e ver o mundo.
A cadeirinha não deve ser mantida no cão o dia todo, sendo necessário que ele passe por períodos de descanso sem ela. Ainda assim, ela é uma ótima forma de se melhorar a qualidade de vida de cães paralisados, pois permite que explorem diferentes ambientes sem precisarem se arrastar ou serem carregados.
Caso o cão realmente sinta dor, então ele pode ser colocado em carrinhos (podem ser carrinhos próprios para cachorros, ou mesmo carrinhos de mão) para “serem passeados”. O estímulo psicológico certamente vale o esforço.
Adaptações na Casa
Se o seu cão for paraplégico e usar a cadeirinha de rodas, ele pode conseguir navegar pela casa com certa autonomia. Mas, para isso, pode ser preciso instalar rampas em eventuais desníveis e degraus. Não deixe também de colocar portõezinhos de segurança nas entradas e saídas de escadarias, para evitar que o peludo decida se aventurar, ou se distraia, e acabe sofrendo um acidente grave.
Para cães com mobilidade reduzida, mas que ainda conseguem caminhar com dificuldade, é recomendável também usar pisos ou ceras antiderrapantes, para dar mais firmeza aos passos. Potes de água distribuídos pela casa facilitam a hidratação, caso o cão sinta muita dor ou dificuldade para conseguir chegar ao seu cantinho quando sente sede. Veja essas e outras sugestões de adaptações possíveis que você pode fazer na sua casa se tiver um cão velhinho neste artigo.
Combatendo a Dor
A dor pode estar presente em muitos casos. Se o seu cão foi diagnosticado com alguma condição dolorosa, não deixe de tratá-la, e não medique apenas quando ele parecer “pior”. É mais fácil impedir que uma dor comece, do que diminui-la depois que já está intensa, por isso, o tratamento da dor deve ser contínuo.
Além de medicamentos para a dor, outros tipos de terapia podem ser associadas e trazer muitos benefícios. A acupuntura, fisioterapia, e hidroterapia, ajudam a aliviar as dores e a estimular a regeneração de articulações degeneradas. Cães com artrose em particular se beneficiam muito da fisioterapia e hidroterapia: a simples movimentação das articulações estimula a sua regeneração e alivia a dor.
Lidando Com As Incontinências
Problemas neurológicos podem fazer com que o cão perca o controle sobre as suas necessidades fisiológicas. Conforme o tipo de lesão, a incontinência será urinária ou fecal. Mesmo que o cão não seja incontinente, a dificuldade de locomoção pode impedir que ele se dirija a um local apropriado quando precisa urinar ou defecar. Na verdade, pode ser que ele não consiga nem ao mesmo se levantar, fazendo as necessidades onde estiver, e se sujando com as próprias fezes e urina..
Esta questão nos leva a dois problemas importantes: (1) a higiene do cão e do seu ambiente, e (2) a alta probabilidade de infecções urinárias.
Um cão nessas condições precisará usar fraldas, a não ser que ele ainda tenha pleno controle sobre as suas funções fisiológicas, e que haja alguém disponível para levá-lo para fazer as necessidades tantas vezes quantas forem necessárias. As fraldas podem ser adquiridas em diversos tamanhos e modelos específicos para cães, sendo diferentes para machos e fêmeas. A depender do tamanho do cão, também é possível improvisar com fraldas de uso humano, bastando fazer um buraco para a cauda.
Uma alternativa às fraldas podem ser os coletores de urina e de fezes, que são práticos e evitam o contato direto das fezes com a pele e os pelos, poupando muito trabalho aos seus tutores.
Já se o cão conseguir controlar as suas necessidades e houver alguém disponível para fazer isso, ele pode ser levado para “se aliviar” pelo menos a cada 3 horas. Não é recomendável levar apenas duas ou três vezes ao dia, principalmente se ele tiver alguma doença que aumente a produção de urina. Ao ficar muito tempo segurando o xixi, o animal pode sofrer com infecções urinárias, que podem inclusive atingir os rins se passarem muito tempo despercebidas e sem tratamento.
Caso o animal tenha dificuldade para urinar sozinho por problemas neurológicos, pode ser necessário massagear a sua bexiga periodicamente para estimular a micção. O seu médico veterinário deve indicar a técnica adequada. Faça esta estimulação a cada 3-4 horas durante o dia, para que o cão não sofra com infecções urinárias, ou até mesmo uma ruptura de bexiga.
Cuidados Com a Higiene
Pode ser difícil dar banho em um cão que nem ao mesmo se levanta. Se o animal for dócil, não sentir dor, e permitir a manipulação, isso até pode ser feito, mas a frequência geralmente terá que ser baixa, para não estressá-lo desnecessariamente. Neste caso, é fundamental que os pelos do cão sejam muito bem secos após o banho para evitar infecções fúngicas e bacterianas na pele.
Para os cuidados mais rotineiros, existem produtos próprios para “banho seco” em cães, que ajudarão a manter a sua pele limpa. Resíduos de urina e de fezes devem ser removidos completamente o quanto antes possível. Use lenços umedecidos para a higiene da barriga, do bumbum, e da parte de dentro das patas, e, se necessário, lave com água morna e sabão neutro somente os locais que se sujaram. Lembre-se de secar bem a pele após qualquer lavagem, e aplique pomadas para assaduras de bebês se houver irritação nos locais que entraram em contato com as fezes ou a urina. Uma opção interessante para a higienização destes cães são lenços umedecidos com antissépticos, que podem ser encomendados em farmácias de manipulação veterinária.
Caso a pele comece a ficar muito irritada, avermelhada, com pústulas, e/ou coçando, pode ser que haja uma infecção. Leve ao veterinário para examinar e medicar.
As Escaras de Decúbito
Escaras de decúbito são feridas que aparecem na pele de pessoas e animais que ficam muito tempo deitados na mesma posição. Previna as escaras movimentando o cão periodicamente, algumas vezes por dia. Massagens por todo o corpo estimulam a circulação sanguínea, e também ajudam a prevenir as escaras.
Se elas aparecerem, aplique cremes com ação antisséptica e cicatrizante, mas leve ao veterinário se estiverem difíceis de tratar, ou se as lesões parecerem muito vermelhas, sensíveis, ou com secreção. Elas podem infeccionar, e precisar ser tratadas com antibióticos ou outros medicamentos mais específicos.
Mais grave até do que as escaras de decúbito é a possibilidade de edema pulmonar por estase sanguínea. Se um paciente (humano ou canino) passa muito tempo deitado na mesma posição, então o seu sangue tende a se acumular em alguns lugares, inclusive na região do pulmão. A médio prazo, isso pode levar a um edema pulmonar, culminando com a morte do cão. Movimentar o animal periodicamente e fazer massagens para estimular a circulação do sangue são medidas simples e que são capazes de prevenir este tipo de complicação.
Alimentação e Hidratação
Um cachorro que não consegue andar sem dúvidas terá dificuldade para chegar à sua água e comida. Ofereça os alimentos em horários predeterminados, sempre colocando o pote num local próximo à cabeça do cão, de modo que ele possa alcançá-lo sem esforço. Após aproximadamente 10 minutos, retire o pote mesmo que haja sobras.
A água deve ficar o tempo todo perto do cão, mas procure um local onde ela não corra o risco de ser acidentalmente derrubada por ele, caso se movimente. Esporadicamente, ofereça a água, colocando-a bem perto da boca, já que ele pode ter dificuldades para beber sozinho.
Apesar de que uma das poucas alegrias da vida de um cachorro que não anda pode ser a comida, seja cuidadoso. Até por não se movimentar, este animal não precisa de tantas calorias por dia quanto precisava antes, a não ser que ele tenha alguma doença metabólica que justifique. Isso significa que as porções de alimentos, e, principalmente, o fornecimento de petiscos, devem ser muito bem controlados para prevenir o ganho de peso, exceto se ele já estiver muito magro. A obesidade pode impactar severamente a qualidade de vida de um cão que não consegue se movimentar, ao aumentar a probabilidade de escaras de decúbito, de edema pulmonar, de infecções de pele, e as dores articulares. Cuide para manter o seu cachorro dentro de um peso adequado.
Estaria Na Hora de Me Despedir do Meu Cão?
A decisão de fazer a eutanásia num cão amado é sempre muito difícil, e extremamente pessoal. Depende das suas convicções pessoais, da sua disponibilidade de recursos para os cuidados de que ele precisa, e do grau de sofrimento do animal.
Já discutimos o tema mais extensamente em outros dois artigos: “Aquela Palavra com E…” e “Eutanásia: O Que O Animal Sente?”, e recomendamos a leitura de ambos àqueles tutores que estiverem sem saber o que fazer. A eutanásia é um recurso extremo, mas que pode ser uma saída razoável para casos de sofrimento intenso e para os quais não haja melhor solução.
Especificamente no caso de cães sem mobilidade, ou com mobilidade reduzida, devemos focar principalmente em dois aspectos: a dor que o animal sente, e se os cuidados de que ele necessita podem ser providos adequadamente. Se um cão sente muita dor, o seu sofrimento é óbvio. Existem medicamentos e tratamentos para o controle da dor, como já mencionei anteriormente neste artigo, embora, em alguns casos, o cão sinta dor mesmo assim. Saiba reconhecer a dor, e trate-a conforme a necessidade do seu cachorro. Cada tutor, baseado em suas observações do animal, e de suas convicções pessoais, deve avaliar até que ponto esta dor pode ser considerada aceitável.
Em relação aos cuidados dispensados, é preciso estar ciente de que um cão nestas condições pode precisar de bastante investimento de tempo e dinheiro. Dinheiro para os medicamentos, consultas veterinárias, e, eventualmente, outros tipos de tratamento, como acupuntura e fisioterapia Mas, principalmente, é preciso dispor de tempo. Avaliemos qual é a qualidade de vida possível para um cão tetraplégico que passe 100% do seu tempo no mesmo exato lugar, sem que ninguém se disponibilize ao menos para levá-lo para dar uma voltinha, respirar um ar puro e sentir cheiros diferentes. Ou de um cão que seja mantido em más condições de higiene, não porque seus tutores não gostem dele, mas porque não há ninguém que possa mantê-lo limpo durante o dia, trocando as suas fraldas e removendo vestígios de fezes e de urina. Ou, ainda, de um cão que esteja sofrendo com escaras de decúbito pela falta de movimentação, e, mais uma vez, falte a disponibilidade de alguém para movimentá-lo e tratar das suas feridas.
O tutor deve ser realista quanto às suas reais condições de tratar adequadamente do seu cão de todas as formas possíveis. Manter um cão com dor, imóvel, sujo, e sem atenção, é uma forma cruel de tratá-lo. Se o tutor não tiver tempo para cuidar do animal durante o dia, deve-se cogitar a possibilidade de contratar um enfermeiro veterinário, ou uma pet sitter para visitá-lo diariamente e prestar a assistência necessária. Outras possibilidades podem ser entregar o cão a outra pessoa que se disponibilize a cuidar corretamente dele, ou, em casos mais extremos, abreviar o seu sofrimento.
Não nos propomos a convencer qualquer tutor a fazer eutanásia em seu cão, pois esta decisão é muito pessoal e está relacionada às convicções de cada um. Entretanto, caso se opte por manter o cão vivo até ele partir naturalmente, o tutor tem a obrigação moral de lhe prestar os cuidados paliativos da melhor forma possível. O cão deve receber carinho, atenção, assistência veterinária, ser mantido devidamente limpo e alimentado, e com a menor dor possível. Certifique-se de que o seu cão está recebendo todos os cuidados de que precisa e merece.
Olá! Esta semana resgatei um cão idoso, ele tem 14 anos porte grande, ele só defecou no primeiro e no segundo dia, agora está 2 dias sem defecar… No dia que o resgatei, o veterinário disse que ele está bem e só precisa de energia, estou dando papinhas Royal Canin e Hills, ele bebe bastante água, mesmo assim ele não defeca, só urina. Comecei a dar purê de abóbora hoje pois vi em vários sites que incentiva a defecar, mas gostaria da opinião de vocês também.
Obs: ele está tomando antibiótico Doxitec 200mg e antinflamatório Alcort 20mg
Olá, Giovana! Parabéns pela adoção <3
Peço desculpas pela demora. Como ele está, o intestino já funcionou?
A abóbora pode ajudar sim a soltar o intestino, e a ingestão de água também ajuda. Não tem problema ele passar uns 2 dias sem defecar, até porque se ele foi resgatado, imagino que talvez estivesse passando fome – então, agora o corpinho dele está se esforçando para aproveitar o máximo possível do alimento que você está dando para ele.
O que você deve ficar atenta é para o caso de ele parecer sentir dor ou desconforto abdominal – por exemplo, fica muito recolhido, triste, talvez até agressivo, e/ou demonstra dor se você palpar a barriguinha dele. Nesse caso, é importante voltar ao veterinário para examinar.
Não dê laxantes por conta própria, pois, se ele tiver algum bloqueio intestinal, a medicação pode tornar o problema bem mais grave.
Um abraço!
Resgatamos uma cadela em condições de abandono, não caminha, tem bicheiras, defeca e urina no lugar que deita, nossa tá difícil como são estes coletores de cachorro.
Olá, Marlon!
Parabéns pelo resgate e adoção, espero que ela se recupere rapidamente!
Sobre o coletor de fezes e/ou urina, dê uma olhada neste site:
Um abraço!
Muito obrigado pelo texto e todas explicações.
Acabei de resgatar um cãozinho que foi atropelado na Mariginal Tiête aqui em São Paulo e ele ficará paraplégico… pelo menos é o que os exames dizem. A coluna não foi quebrada.. mas ela se deslocou lateralmente. É uma fêmea e ela já tem uma certa idade. Vou providenciar uma cadeirinha de rodas para ela.
Muito obrigado pelas explicações
Disponha! 😉
Melhoras para ela!
Boa noite.Tenho um Pitty Bull de 14 anos.Tudo começou segunda passada ,dei remédio pra dor mas cada dia tá pior ,ele só mexe a cabeça e faz as necessidade aonde tá.O que eu faço?
Leve no veterinário urgentemente !
Olá, Silvia!
Leve o seu cão ao veterinário com urgência. O seu cão pode ter sofrido uma lesão na coluna, e com certeza está sentindo dor. Ele precisa ser atendido por um profissional.