Cães são fofos, crianças são fofas, juntem os dois e estaremos vomitando arco-íris. Exceto quando a criança resolve judiar do cão. Ou quando o cachorro morde ela. Aí, temos um problema… Diante de tantos casos de maus tratos a animais, precisamos pensar sobre a forma como as nossas crianças se relacionam com eles.
Um bebê não sabe que puxar aqueles pelinhos macios machuca o cachorro, e este, por sua vez, não deve ser obrigado a tolerar a dor só porque quem o está ferindo é uma criança. Cabe aos pais a função de ensinar a criança, desde bebê, como lidar com os bichos. É preciso mostrar o jeito certo de fazer carinho sem machucar… E, mais do que isso, é preciso estar presente, já que deixar um bebê ou criança pequena sozinha com cães (independente de raça ou porte) nunca é uma boa ideia.
Quando vemos notícias de ataques de cães a crianças, as opiniões parecem sempre se dividir em dois “partidos”: um lado defendendo a criança, pobre vítima indefesa de uma fera sanguinária; e o outro lado, defendendo o cão, que quase certamente foi provocado. Mas poucos mencionam os pais. Qual é o papel dos pais nessa história toda?
Num grupo de proteção animal do Facebook, recentemente presenciei uma discussão polêmica a respeito de um vídeo mostrando uma criança de aproximadamente dois anos, que tentou jogar um gato na piscina. O gato consegue se livrar, mas a criança cai na água. A discussão esquentou, com pessoas chamando o menino – um bebê – de “demônio”, “semente do mal”, e outros termos parecidos, inclusive com torcidas para que a criança se afogasse. Vejam bem, o que o menino fez foi errado – muito errado -, mas o que ele sabe sobre certo e errado?
É possível ver que, desde o início do vídeo, o menino está acompanhado por um homem adulto, que caminha ao lado dele até chegar à piscina. Alguém tem alguma dúvida de que este homem o instigou a fazer isso?
Quando uma criança maltrata um animal, o que devemos nos perguntar é: o que a levou a fazer isso? e, na grande maioria das vezes, “o quê” é um adulto. Um adulto que ensina, pelo exemplo, que os animais são “coisas” desprovidas de sentimentos; ou, ainda, que é normal bater em alguém que é bem menor do que você e não pode se defender, seja este “alguém” uma pessoa ou um animal. Uma criança que cresça neste tipo de ambiente, com este tipo de adultos, acaba ela própria se tornando um adulto agressor posteriormente. Mas a culpa não é dela. E a boa notícia é que ainda dá tempo de mudar isso, se a gente fizer uma forcinha.
Ao se preocupar com a forma como os seus filhos se relacionam com os animais, os pais devem não só dar o exemplo, tratando os bichos (e a criança, é claro) com respeito, mas também “podar” comportamentos potencialmente nocivos, mesmo que não sejam agressivos. Que comportamentos? um bebê que, na sua inocência, puxa a orelha ou o pêlo de um cachorro, obviamente não tem a intenção de machucá-lo. Mas machuca. E se ninguém disser que não pode, ele vai continuar fazendo, e intensificando esse comportamento (é tão gostoooso apertar). Ele acha que pode. Até levar uma mordida, se ferir, se traumatizar… O cachorro foi malvado? será que é melhor a família se desfazer dele??? faltou perguntar: cadê o (ir)responsável por esta criança, que a deixou sozinha com o cão, e permitiu que ela machucasse o animal (ainda que sem intenção)? e o pior: há casos que acabam até mesmo com a morte da criança.
Algumas pessoas têm um medo irracional de cães, e nem sabem porquê… e, quando vão investigar, o medo delas está relacionado a um acidente desse tipo. Outros jeitos de ficar com medo de cachorro? quando os pais pensam que deixar a criança com medo é uma boa forma de convencê-las a fazer o que querem (“faça isso, se não o cachorro vai morder/ a bruxa vai pegar/ etc.”). Ou então, quando os próprios pais têm medo de cachorro, e transmitem essa insegurança aos filhos. Como tutora de um docílimo pit bull, diversas vezes presenciei pais que chegam a atravessar a rua, dizendo “isso aí é um pit bull, ele morde, ele mata”. E a criança cresce com esta ideia na cabeça. Acredita que é verdade, e depois a propaga, como se fosse verdade.
Do medo e da incompreensão, nascem atitudes danosas. É claro, muita gente que tem medo de cachorro simplesmente tenta passar longe deles. Mas outras, principalmente aquelas que foram criadas em condições de desrespeito e de até violência, decidem “resolver” o problema, envenenando ou agredindo animais.
Crianças que são criadas em lares amorosos, onde há respeito a humanos e a animais, são muito menos propensas a agredirem outras crianças ou bichos. Elas são capazes de empatia, e de compreender que cães não são “coisas”. Mas, para isso, precisam de exemplos.
Ao ensinar os nossos filhos a respeitar os cães e a abordá-los corretamente, nós evitamos que eles sejam mordidos. Evitamos que os animais sofram. E, ao mesmo tempo, preparamos uma nova geração de adultos para o futuro – que, com sorte, será melhor do que a nossa…