Ainda hoje, quando uma mamãe de cachorro anuncia que ficou grávida, não raro se escuta a pergunta: “mas e o que você vai fazer com o cão?”, implicando que o animal poderá transmitir doenças à gestante ou ao bebê, ou, ainda, que irá agredir a criança. Infelizmente, até mesmo alguns médicos recomendam que a família “se desfaça” do cão, em prol da saúde da mamãe e do bebê.
Mas nós do Meu Cão Velhinho sabemos que cachorro não é descartável, não é? Principalmente quando se trata destes amiguinhos tão especiais, que vêm nos acompanhando há 8, 10, 15 anos, ou até mais tempo! Então, como uma mamãe de cachorro deve se preparar para se tornar mamãe de gente também, sem ter problemas?
ANTES DE O BEBÊ NASCER: SAÚDE EM FOCO
Sim, os cuidados começam já durante a gestação. Nesta fase, o foco deve ser na saúde do cão (claro, na da mamãe também!). Por isso, uma consulta ao veterinário nesta época é imprescindível – e não se esqueça de levar a carteirinha de vacinação! O que terá que ser observado?
- VACINAS EM DIA. Cães idosos também precisam ser vacinados, mesmo que já tenham tomado várias doses nos anos anteriores. Em alguns casos, a vacinação destes animais não precisa mais ser anual (pergunte ao seu veterinário), já que eles já desenvolveram bastante imunidade ao longo da vida. Mesmo assim, não deixe de mostrar a carteirinha ao veterinário, pois é muito importante que o seu peludo esteja bem protegido!
- VERMÍFUGOS. Uma desverminação preventiva, e até mesmo um exame de fezes, podem ser recomendados. O cuidado com os vermes deve continuar especialmente depois do nascimento do bebê, já que vários deles podem ser transmitidos para ele.
- PULGAS, CARRAPATOS, E OUTROS. Aproveite o check up para verificar se o seu cão tem pulgas, carrapatos, sarna, ou qualquer outro problema que precise ser tratado. Lembremos que estes parasitas também podem afetar humanos, e até mesmo transmitir doenças!
- CHECK UP GERAL. Além da preocupação óbvia com a saúde e o bem-estar do cão, devemos nos lembrar de que algumas doenças são transmissíveis para humanos – e gestantes e bebês são especialmente susceptíveis a elas! Por isso, o veterinário deverá verificar todos os aspectos da saúde do cão, podendo inclusive recomendar a realização de um exame de sangue ou outros que julgar convenientes, a fim de ter um diagnóstico mais preciso.
- MUDANÇAS NA ROTINA? COMECE JÁ! Se o seu cão, que sempre dormiu dentro de casa, terá que passar a dormir para fora quando o bebê chegar, ou se alguns lugares passarão a ser “proibidos” para ele, ou ainda, se estiver prevendo qualquer mudança na rotina do cão que ele poderá não gostar, comece já. A chegada do bebê deve ser vista pelo animal como algo unicamente positivo, e não deve ser relacionada a estas mudanças potencialmente desagradáveis. Por isso, quanto antes a nova rotina começar, melhor!
- LEISHMANIOSE. A leishmaniose é um problema sério em certas regiões do país, e afeta tanto cães quanto humanos. Ela é transmitida através da picada de mosquitos, que se tornam infectados após terem picado uma pessoa ou animal doentes. Mesmo que o seu cão não tenha leishmaniose, se você viver em área endêmica (região com grande incidência da doença), é hora de tomar um cuidado extra. Informe-se com o seu veterinário a respeito da vacina contra a leishmaniose, que pode ser aplicada em animais sabidamente negativos (é preciso fazer um exame de sangue antes de vacinar). Além da vacinação, proteja o seu cão com coleiras “anti-mosquitos” e repelentes próprios para cães. Quanto ao seu bebê, certifique-se de comprar um mosquiteiro para o berço, e, se possível, procure telar as janelas da casa para evitar a entrada de mosquitos. O uso de repelentes em bebês muito jovens pode ser contra indicado, converse com o seu pediatra.
- HIGIENE É FUNDAMENTAL. Regra básica, que vale para toda a vida do cão, mas em especial quando há um bebê na casa ou “a caminho”. O ambiente do cão deve ser mantido limpo, e o próprio animal precisará tomar banhos periódicos (caso já não o faça) para poder ter contato com o bebê. Para os humanos, não é demais lembrar que, neste momento, é mais importante do que nunca se lembrar de lavar as mãos depois de interagir com o cão!
DEPOIS DO NASCIMENTO: UM NOVO RELACIONAMENTO
Em geral, os cães gostam de bebês e os aceitam muito bem. Porém, a relação pode se tornar turbulenta se a chegada do novo membro da família for relacionada a eventos negativos na vida do cão (veja o item 5, acima), ou se ele passar a ser excluído por causa da criança.
Estudos já indicam que crianças que convivem com cães têm menor propensão a alergias, melhor imunidade, aprendem a ter responsabilidade mais cedo, e – não precisa estudo algum para isso – ganham ótimos amigos peludos para a vida! Então, como tornar esta convivência a mais positiva possível?
- NA MATERNIDADE. Para que o cão já comece a se acostumar com o novo amigo antes mesmo de conhecê-lo, especialistas recomendam que, enquanto a mamãe ainda está na maternidade com o bebê se recuperando o parto, o papai ou outra pessoa da família leve para casa algum paninho ou roupinha do bebê, para que o cão possa sentir o cheiro. Para deixar a experiência ainda mais positiva, o cheiro pode ser associado a uma recompensa para o cão, como carinho ou um petisco.
- CHEGANDO À CASA. Recém-nascidos são frágeis e têm pouca imunidade – então, a apresentação inicial deve respeitar esta condição do bebê. É interessante que o cão possa cheirar o bebê quando ele chegar, mas apenas permita esta aproximação quando o animal estiver se mostrando calmo e submisso. Se ele estiver muito excitado, mantenha-o longe até se acalmar, pois, caso contrário, corre-se o risco de que o cão pule no bebê e o machuque. Nos primeiros contatos, é melhor permitir o cão apenas cheire a criança, sem lambidas ou outras “festas”.
- COMEÇANDO A AMIZADE. Inclua o cão na rotina, permita que fique perto do bebê e se aproxime dele quando estiver calmo. Recompense o bom comportamento, e, conforme se sentir confortável, permita um contato mais direto entre os dois. O bebê poderá sentir curiosidade quanto ao cão, e querer tocá-lo. Permita o toque, porém use a sua mão para evitar que ele agarre e puxe os pelos do animal, bem como para protegê-lo e evitar potenciais acidentes.
- A REGRA Nº 1 NO RELACIONAMENTO DE CÃES E BEBÊS. Esta regra é mais importante do que qualquer outra. Não importa o tamanho e nem o temperamento do seu cão, nunca deixe um bebê ou criança pequena sozinha com ele. Todos os contatos devem ser supervisionados por um adulto capaz de manter o cão sob controle! Tanto bebês quanto crianças pequenas podem puxar pelos, orelhas, ou a cauda dos animais, ou ainda, fazer movimentos bruscos que podem ser interpretados pelo cão como agressões. Ao se defender, o cão poderá morder e ferir seriamente a criança, ou no mínimo, traumatiza-la.
- ENSINANDO O BEBÊ A SE RELACIONAR COM O CÃO. Quanto antes começar, melhor. Desde os primeiros contatos, os pais devem mostrar aos filhos como interagir com os animais e a respeitá-los. É natural os bebês puxarem pelos e orelhas de cães e gatos, e, ainda que o seu animal seja dócil o suficiente para não reagir, é importante ensinar desde cedo como acariciar um animal sem feri-lo. Conforme a criança for crescendo, poderá compreender que animais também sentem dor, que merecem respeito, e até mesmo aprenderá a interpretar a linguagem corporal dos seus peludos.
- DIVIRTA-SE!
MITOS E VERDADES
Cães transmitem toxoplasmose? Não. Assim como bovinos, humanos, e várias outras espécies, o toxoplasma, quando atinge cães, não é eliminado nas fezes: ele fica “preso” nos músculos ou em certos órgãos, como o fígado, coração, etc. Então, a única forma de o seu cão conseguir te passar toxoplasmose será se você resolver comê-lo – e mal passado!
Terei que me desfazer do meu gatinho? Nosso site é sobre cães, mas neste caso, resolvemos abrir uma exceção especial. Sabendo que muitas mulheres são orientadas, inclusive por médicos, a se desfazerem dos seus gatos por conta da toxoplasmose, consideramos essencial um esclarecimento a este respeito.
É fato, sim, que os gatos são os únicos animais capazes de eliminar o toxoplasma nas fezes. Entretanto, já se demonstrou que os gatos infectados pelo Toxoplasma liberam o parasita nas fezes durante não mais do que uma semana, ao longo da sua vida toda. Só este fato já reduz bastante a chance de que o seu gato esteja liberando o parasita nas fezes justo na época em que você estiver grávida. Uma vez que o parasita é liberado nas fezes, ele ainda não é infectante (ou seja, não tem a capacidade de infectar humanos ou animais). Ele precisa de alguns dias para amadurecer, e só então conseguirá infectar alguém. Isso significa que fezes frescas, mesmo contaminadas, não transmitem toxoplasmose. Depois que os parasitas já se tornaram infectantes, eles precisam ser ingeridos. Considerando que normalmente as pessoas não comem as fezes dos seus animais, o risco poderá existir se a pessoa sujar as suas mãos enquanto limpa a caixa de areia e não lavá-las depois. Um simples hábito de higiene pode evitar isso. Caso queira “garantir” que não haverá contato, a gestante pode pedir ao seu parceiro que cuide da limpeza da caixinha do gato!
Por fim, lembremos que o gato apenas poderá contaminar o ambiente com toxoplasma se ele próprio adquirir o parasita. Para tanto, ele precisará, por exemplo, ingerir um roedor, ou carne crua. Para gatos que só vivem dentro de casa, estas possibilidades são quase nulas.
A maioria dos casos humanos de toxoplasmose está relacionada à ingestão de verduras e legumes mal lavados, ou de carne mal passada. Então, cuidado com a higiene na hora de limpar a caixinha de areia, e seja feliz com o seu gatinho!
Grávida não pode pegar cachorro no colo, para não pegar doença. Cães saudáveis não transmitem doenças, simples assim. Se o seu cão é saudável e está limpinho, não há motivo para ter medo de pegá-lo.