Este é um velho ditado, que começou em 1523, quando um sujeito chamado John Fitzherbert, no seu livro “Boke of Husbandry” (“O Livro da Agricultura”, em tradução livre), usou esta expressão. O interessante é que esta frase, hoje vista como um ditado popular no mundo todo, e que normalmente é usada se referindo à resistência que pessoas mais velhas podem ter às inovações, foi escrita de forma bem literal. O que o autor queria dizer era exatamente isso: cães velhos não aprendem truques novos. Teria ele razão?
Cachorro Velho Aprende… Ou Não?
Antes de continuarmos, devo dizer que o assunto desta postagem começou como uma brincadeira. Escuto essa frase do meu pai desde que me entendo por gente. E, desde que comecei o blog alguns anos atrás, ele vem me provocando para fazer um artigo sobre isso. Bom, ele venceu. Porque eu achava que só ele dizia isso, mas, claramente, estava enganada.
E qual não foi a minha surpresa quando descobri que o assunto já tinha sido tratado até mesmo pelos Caçadores de Mitos (Mythbusters, série do Discovery Chanel)? Num episódio sobre cães, que foi ao ar em março de 2007, eles falaram exatamente sobre isso. Para desvendar se o mito era verdadeiro ou falso, Jamie Hyneman e Adam Savage pegaram dois cães com sete anos de idade, e que não tinham qualquer tipo de adestramento: “Bobo” e “Cece”. Sendo cães de grande porte, eles teriam uma idade equivalente a 50 anos “humanos”. Os cães passaram por quatro dias de treinamento, durante os quais aprenderam truques como andar junto, sentar, deitar, ficar e dar a pata. No final do episódio, passaram por um teste para verificar se tinham aprendido alguma coisa mesmo – e passaram com honras! Bobo e Cece aprenderam tudo o que lhes foi ensinado, e o mais impressionante: num período muito curto! A conclusão deles foi que o mito é falso.
Se é verdade que cães idosos podem sofrer de problemas cognitivos como a demência, além da eventual perda da visão ou da audição, por outro lado eles são capazes de manter o foco e prestar a atenção por bem mais tempo do que os filhotes – que, convenhamos, as vezes podem ter a mesma capacidade de ficarem parados que o esquilo Ligeirinho quando está “cafeinado”.
Os Desafios
A capacidade de aprendizado de um cão idoso não fica comprometida só por conta da sua idade; um cachorro mais velhinho pode ser ensinado, por exemplo, a “ir ao banheiro” ou mesmo receber um adestramento mais “formal” sem maiores problemas. O que você precisa fazer é compreender algumas limitações que o seu animal possa ter. Por exemplo, não é uma boa ideia fazer um treinamento de agility num cão que tenha artrose. Não porque ele não tenha capacidade de aprender, mas porque o corpo dele não está mais apto a desenvolver este tipo de atividade. Já se o cão for cego, o treinamento todo vai precisar de algumas adaptações. O cão surdo consegue compreender a comunicação não verbal (expressão corporal e gestual) humana com bastante facilidade, e por isso o seu treinamento também não é tão complicado. Claro, ele pode não vir quando você chamá-lo verbalmente simplesmente porque não te ouviu, mas, se ele estiver te vendo, pode responder muito bem aos seus comandos gestuais.
Por fim, temos os cãezinhos que sofrem com a Síndrome da Disfunção Cognitiva Canina, ou “demência senil”. Estes sim podem ter alguma dificuldade de aprendizado, mas isso não quer dizer que não possam aprender. Na realidade, alguns exercícios de adestramento são até recomendados para estes cães como uma forma de estimular as suas mentes, mantendo-as ativas. Com um pouco de paciência e repetição, estes animais podem relembrar aquilo que já tinham esquecido (alguns cães com esta doença eventualmente perdem o adestramento que tinham anteriormente), e até mesmo – sim – aprender truques novos.
Quando falamos em “aprender truques novos”, podemos dar a impressão de que estamos falando apenas sobre aqueles “truques” que muitas pessoas ensinam aos seus cães – seja como uma brincadeira, seja para mostrar para os outros o quanto os seus cães são espertos -, mas que não têm nenhuma utilidade prática. Mas apenas usamos a expressão “truques” porque é esta a palavra do antigo ditado… Na verdade, o “truque”, por assim dizer, pode ser algo muito útil e necessário para a boa convivência do cão no ambiente familiar. Pode ser algo tão simples como voltar a fazer xixi no lugar certo (supondo que o cão não esteja sofrendo com incontinência), caminhar corretamente e com segurança usando a coleira, ou parar de mexer no lixo. Ainda que um adestramento propriamente dito possa não ser necessário para muitos cães idosos, alguns princípios básicos de educação são sempre bem-vindos. Ademais, se você abordar problemas comportamentais como a ansiedade de separação e o medo de fogos de artifício num cão idoso, ele só tem a ganhar.
Por isso, se você quiser ensinar algo novo ao seu cão velhinho e alguém tentar te desencorajar porque “cachorro velho não aprende truque novo”, nada tema: o seu cão poderá te surpreender!