Em janeiro de 2016, quando eu era voluntária do Centro de Controle de Zoonoses (CCZ) aos fins de semana, notei a presença de uma pequena cadelinha, que pelo tamanho reduzido não conseguia ficar presa nas baias. Ela ficava deitadinha em cobertores junto ao depósito de produtos de limpeza do local. Enquanto eu entrava e saia ela me acompanhava, mas não deixava eu me aproximar, fugindo do contato físico.
Passados alguns dias, quando saí para uma caminhada matinal, às 6 da manhã, vi a mesma cadelinha perambulando pela minha rua, que fica cerca de 800m do CCZ. Tentei capturá-la, mas sem êxito. Liguei para a Médica Veterinária responsável pelo CCZ perguntando se a pequena havia sido adotada. Ela me informou que não e que não dava para controlar as saídas dela do recinto por causa do tamanho. Neste dia, a veterinária, após longas buscas, conseguiu resgatá-la.
Passados dois dias a cadelinha voltou à minha rua, novamente perambulando como quem estivesse procurando sua antiga casa. Liguei novamente para a Veterinária, que fez de novo o resgate.
No dia seguinte, nova visita da cadelinha à minha rua, desta vez no entardecer. Mandei uma mensagem para a Veterinária que informou que não havia condições naquele momento de fazer buscas pelo animal. Na manhã seguinte ela me informou que a cadelinha havia voltado ao CCZ voluntariamente.
Foi aí que resolvi perguntar a história da cachorrinha idosa fujona. A Veterinária então me contou que a cadelinha, chamada Lindinha, de aproximadamente 11 anos, foi levada ao CCZ pela proprietária para que fosse realizada eutanásia, considerando que havia se instalado uma doença crônica de pele, sarna demodécica, cujos tratamentos realizados não surtiram efeito. Ainda, que não tinha mais tempo nem vontade de tentar outras formas de tratar. Contou que explicou à proprietária que não se faz eutanásia em casos como este e que não faria o procedimento. Foi aí que a proprietária disse que então deixaria a Lindinha no CCZ, pois não queria levá-la de volta para casa.
A história me sensibilizou. Pensei com a Lindinha estava se sentindo após ter vivido tantos anos sendo bem tratada e de repente ter sido abandonada por sua família. Também pensei que ela nunca seria adotada no CCZ, devido à idade, à personalidade e ao estado de saúde. Apesar de já ter 8 gatos e 3 cadelas, resolvi adotar a Lindinha. Conversei com a Veterinária do CCZ e ela adorou a ideia.
Adotei a Lindinha no dia 11 de janeiro de 2016. Ela era muito agressiva com todos os funcionários do CCZ, apesar de não ter quase nenhum dente na boca, mas ela sabia ver minhas intenções sem que eu dissesse nada. Desde que chegou à minha casa, a Lindinha nunca rosnou para mim, comeu na minha mão desde o primeiro dia e entendia meu olhar. Os meus outros animais respeitaram a Lindinha desde o primeiro dia. Parece que sabiam da situação.
Levei a Lindinha para uma consulta veterinária e percebi tantas coisas que precisavam ser feitas. Ela se coçava 24h por dia, tinha verminose, muitas feridas com pus, odor terrível, pelos ralos e escassos. Após pesquisas e conversas com o Veterinário sobre cães idosos e sarna demodécica, fiz alguns tratamentos e várias tentativas paliativas que melhoravam somente no dia do banho, depois o quadro retomava tudo de novo. Apesar de não nascer mais nenhum pêlo sequer eu já notava que ela estava se sentindo melhor morando com uma família.
Um dia conversando com o Veterinário ele me sugeriu que a Lindinha pudesse ter Malassézia. Pesquisei muitas teses e artigos na internet e era exatamente o quadro da Lindinha. Comecei a fazer outro tratamento e agora depois de 2 meses ela está com mais pelos e menos coceira. Toma banho a cada 3 dias, tem alimentação especial e cama trocada a cada banho.
É muito difícil cuidar de um cão idoso, há muitas recaídas. Não me arrependo nem um segundo sequer desta adoção. Sinto-me feliz por saber que a Lindinha terá um fim de vida feliz, com conforto, dignidade e amor. Sei que muitas famílias abandonam animais idosos. É muito triste. Torço para que o mundo reveja seus conceitos e veja a vida com respeito e principalmente que ensinem as crianças a amar os animais.
Dia 11 de outubro fará 9 meses que a Lindinha está comigo e parece que ela sempre esteve. Ela é companheira, carinhosa, cheia de charme. Me recebe todos os dias com muita alegria e rebolado. Muitas pessoas que vão à minha casa têm a deselegância de dizer da feiúra da Lindinha. Não vejo feiúra nela, vejo marcas do tempo, da sua história, vejo uma vida que luta todo dia para continuar aqui. Isso para mim é o que importa. Amo a Lindinha e quero que ela fique cada dia mais saudável e que sua vida seja longa!
Ass.: Geisa Lima