A Vitória morava em Osasco, numa casa onde era rejeitada. Seu antigo tutor já havia tentado 'sumir' com ela, levando-a a um local e soltando. Em sua inocência, a Vitória voltou. Foi ali amarrada num poste da comunidade, onde crianças a apedrejavam.... Seu antigo tutor dizia: “Para que serve uma vira lata sarnenta???”
Vitória é uma SRD, com sarna demodécica, (conhecida como sarna negra), porém é uma cachorra dócil, carinhosa. A pedido da protetora Zilá, ele a abrigou em sua garagem até que a mesma encontrasse uma adotante. Seu espaço era mínimo, pois vivia presa a uma corrente pequena, presa ao cavalete de água. Seu 'abrigo' era um pequeno tapetinho, onde a encontrei enroladinha...ao seu lado, duas vasilhas: uma com água e outra com sobras de comida; e o mais dolorido foi saber que o antigo dono a banhava com um produto totalmente tóxico. Enquanto acariciava ela, imaginava a dor física e emocional que ela vivia.
Sem palavras para expressar meus sentimentos em relação a Vitória, não discuti, não falei absolutamente nada que talvez deveria ter dito. Somente olhei a ele e pedi a Vitória, e obviamente, sem pensar a resposta foi afirmativa.
Vitória veio no carro quietinha, sem latir, sem chorar, sem saber o que lhe aconteceria. Vim conversando com ela, dizendo que seu mundo mudaria, que ela não sofreria mais humilhações, e que seria muito, muito amada.
Como todos nossos amigos peludos, a Vitória me entendia, me olhava e voltava a se enrolar no banco do carro.
Já em minha residência Vitória foi apresentada à matilha, e apesar do local estranho, ela dormiu aquecida e alimentada naquela noite. No dia seguinte foi a uma Veterinária, e iniciamos um tratamento para seu problema de pele.
Ela reagiu muito bem, se enturmou, passou a conhecer o ambiente, a entender que era livre, que podia andar sem receio de ser atropelada, apedrejada ou ser maltratada... E se tornou uma cachorra especial, protetora de todos, latia muito quando alguém se aproximava do portão. Era sua forma de nos agradecer. Com um simples chamado, Vitória obedecia, e é assim até hoje.
Vivemos dois momentos muito tristes. O primeiro foi quando ela foi ser castrada. Ela dentro da caixa de transporte, me olhava e chorava, meus olhos escorriam lágrimas, não por ela ser castrada, mas por empatia, imaginar que ela estivesse se sentindo abandonada novamente. Ela foi com o “papys”, estava segura, mas nada foi mais feliz do que ver ela retornar andando, abanando o rabinho e encostando sua cabecinha em minhas pernas. Ela também retirou uma mama com um pequeno tumor. Mas, pela sua garra se recuperou rápido.
O Segundo momento foi quando eu e seu “papys” passamos por um momento muito difícil, tendo que entregar a casa em que morávamos, e indo para outra não muito segura. Foi um momento em que muitas amigas, para nos ajudar, começaram a agilizar adoções de nossos peludos, para o bem deles. E a Vitória iria para um lar maravilhoso, rodeada de peludos de sua faixa etária, outros com alguma deficiência. Porém, no momento em que entrei no ambiente em que ela estava, ela correu, entrou na casinha, se curvou e, me olhando, começou a chorar baixinho. Meu coração não aguentou, me agachei e desmoronei, comecei a chorar com as mãos no rosto, soltando toda a tensão que estava vivendo naqueles dias. E então fui surpreendida pela presença da Vitória perto de mim, eu a olhei e disse que ela não iria embora, que ela ficaria, e viveria até o fim de nossos dias conosco. A abracei, e chorei mais ainda ali, tendo a Vitória como um ombro amigo, o melhor até hoje. Agradeço até hoje a pessoa que iria cuidar dela. Relatei o fato e ela compreendeu perfeitamente.
Vitória é uma idosinha de sorte, quando eu a trouxe, pela sua triste história ela ganhou uma madrinha maravilhosa, Vera Vasconcelos, que carinhosamente a chamava de Vick Paraibana... o sobrenome Paraibana vem do fato da Vitória ser protetora, durona e carinhosa, decidida e carente e valente. Já que ninguém se aproxima de sua refeição hehe. Uma singela homenagem às mulheres Paraibanas. A tia Vera teve alguns problemas e não pode mais amadrinhar financeiramente a Vitória, mas sempre será sua madrinha, e por ser uma Paraibana de sorte, a Vitória ganhou outra maravilhosa madrinha, Mônica Bertoldo. Ambas sempre ajudaram financeiramente com a ração, ou algum gasto extra. A sua madrinha Mônica teve um problema de saúde, mas não deixou de ajudar sua afilhada.
Por um motivo que desconheço, a nossa idosinha tem aversão a Poodles. Ela não ataca, não briga, mas não permite um poodle perto dela, ela late brava, rosna, e não permite aproximação... Como entender? Não tento, só respeito. Com toda certeza, a Vitória tem seus motivos.
Atualmente a Vitória está ótima para os seus aproximadamente 16 anos, tem sua casinha, escolhe onde dormir, tem cobertas de calor e frio, tem sua alimentação de rotina, água limpa e fresca, espaço para andar, fazer suas necessidades.
Sem dúvida alguma, ela faz jus ao seu nome: Vitória!!!!!!!!!!
Eu? Sou a “mamys” mais feliz que pode existir, tenho a companhia dela e de seus 20 irmãos, sempre me surpreendendo com o aprendizado que tenho com todos.
A Vitória? Ela é feliz!
Ass.: Sol Queiroz